O sofá estava acomodado na cozinha para dar espaço ao caixão
na sala.
Eu e minha vó estávamos sentadas, com sono, cansadas da
madrugada de velório que parecia estar rolando a pelo menos umas 30 horas.
Eu estava triste. Triste porque a minha vó estava triste.
Porque ela estava cansada. Porque ela tentava tirar um
cochilo enquanto choramingava baixinho, de leve, a morte do homem que a acompanhou
a vida intera.
Ela deixava escapar aquelas lágrimas que a gente não quer
que ninguém veja, aquelas que mais doem, sabe?
Era a despedida de uma vida em dois, de uma vida dedicada a
amar, cuidar e principalmente ESTAR com alguém.
Dores sinceras sempre me comovem.
Nove anos depois, pela segunda vez, o sofá teve que sair da
sala. E nós definitivamente não fomos feitos para morrer. Ao contrário do que
dizem, a morte não é natural, e nunca vamos nos acostumar com ela.
A minha vó, além do caixão, já tinha escolhido a roupa e os
sapatos para esse dia. Acreditem se quiser, já tinha mandado fazer a foto que
combinasse com a do meu vô, que já estava lá.
Ela se preocupou em estar novamente com ele.
Em tempos de “alterou status para relacionamento enrolado”,
amores sinceros sempre me comovem.
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