quinta-feira, 13 de setembro de 2012


O sofá estava acomodado na cozinha para dar espaço ao caixão na sala.

Eu e minha vó estávamos sentadas, com sono, cansadas da madrugada de velório que parecia estar rolando a pelo menos umas 30 horas.
Eu estava triste. Triste porque a minha vó estava triste.
Porque ela estava cansada. Porque ela tentava tirar um cochilo enquanto choramingava baixinho, de leve, a morte do homem que a acompanhou a vida intera.
Ela deixava escapar aquelas lágrimas que a gente não quer que ninguém veja, aquelas que mais doem, sabe?

Era a despedida de uma vida em dois, de uma vida dedicada a amar, cuidar e principalmente ESTAR com alguém.

Dores sinceras sempre me comovem.

Nove anos depois, pela segunda vez, o sofá teve que sair da sala. E nós definitivamente não fomos feitos para morrer. Ao contrário do que dizem, a morte não é natural, e nunca vamos nos acostumar com ela.

A minha vó, além do caixão, já tinha escolhido a roupa e os sapatos para esse dia. Acreditem se quiser, já tinha mandado fazer a foto que combinasse com a do meu vô, que já estava lá.
Ela se preocupou em estar novamente com ele.

Em tempos de “alterou status para relacionamento enrolado”, amores sinceros sempre me comovem. 

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