sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Me achava indestrutível. 
Nunca imaginaria, que o ia me destruir, nasceu comigo.
Correndo em círculos. E andando devagar.
É dolorido ver como mentes severas são chamadas de personalidade.
Mentes severas deixam marcas e me empurram, pro lugar errado. Pra baixo, e para longe. Inventam estradas até então, inexistentes.
E sou obrigados a ficar lá, como se ninguém mais no mundo olhasse por mim.
Mas é só um círculo e a maldade cura-se aos poucos. Não do maldoso, mas da suas vítimas.
Enquanto isso, encontro força para correr atrás daqueles que me querem bem, que me fazem bem e enxergam em mim sinceridade, que não é maldosa, apenas verdadeira.
Me mostram que errar é um compromisso que tenho comigo. E por mais que eu fuja, são círculos, círculos...

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um dia sem remédio

Dois anos tomando 13 comprimidos por dia. Dois antidepressivos. Um dia sem. Desabo.

Se a alegria pode ser feita em um laboratório, que assim seja.

Mas quando e como cheguei aqui? Lembro-me da última vez que minhas pretensões de vida eram reais, possíveis e maravilhosas.
Sumiram.
De um dia pro outro, acordei, levantei, e não tinha mais nada. Absolutamente nada.
Eu sumi.
O choro. Ele tinha alguns motivos, vários na verdade. Hoje as razões são outras, mas mesmo assim, a angústia do "até quando?" permanece.
Ah, quando é que vou acordar e tudo vai voltar ao normal? Já me disseram que é impossível. Um vez destruída, pra sempre marcada.
Marca do erro, do sonho não realizado, das expectativas frustradas, da doença e de mim.
Marca de mim.
Não se espante comigo, se eu levantei hoje, é porque venci. Mas a vida não é só de vitórias, não é mesmo?

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Talvez já esteja na hora de criar uma vida em que eu possa ser alguém. Alguém no sentido de ter algo para ser esse alguém.
Ou ao menos ter uma pretensão.
Eu não tenho pretensões, tenho sonhos. E talvez você que me lê, ache isso magnifico e poético. Mas você não sabe como é viver sem direção, ou simplesmente abandonar a direção.
Existem aqueles olhares, aquelas perguntas e os comentários que fazem quando não estou.
Existe também a velha sensação de deslocamento, a todo instante. Demora-se muito para se acostumar com ela, e às vezes dói.
Não que eu queira fugir dos padrões, mas eu não consigo acreditar que esse mundo é real, que eu realmente preciso abaixar a cabeça para ter meu dinheiro, e ter meu dinheiro para ter meu nome. Eu não consigo ou talvez, não queira. Que seja. Não preciso de um nome.
Minha alma é tão maior que tudo que eu tento pensar, não cabe em um uniforme, não cabe em uma linha, não cabe em um diploma, não cabe nem dentro de mim.
Essa transição para ser alguém não pode ser tão angustiante só para mim, será que ninguém mais enxerga o que eu vejo, o erro, o fabricado e os olhos fechados? É egoísmo pensar que sou a única.

Às vezes eu choro sem motivo e concluo que é o mundo que me faz chorar. Nesses momentos passa na minha cabeça a ideia de que o erro não sou eu, e sim, o mundo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O homem que me fez sorrir

O homem que me fez sorrir
Desci do ônibus e tropecei em um homem no chão. Sujo e largado. Não sei se estava dormindo ou desmaiado, mas certamente, abandonado.
Me doeu.
Quando cheguei na porta da estação, tinha outro, cercado de cachorros e comendo um espetinho de carne que jogaram no chão.
Dentro do terminal tinha uma mulher, desorientada, com roupas rasgadas, um cobertor tampando o corpo, cheirando mal, unhas pretas e implorando para alguém acender um cigarro para ela.
Não sei quem são, muito menos o motivo que os deixaram daquela forma. Talvez uma depressão curada com vício, ou um vício que causou uma depressão, talvez um abandono, ou, é apenas o fruto de dizer não ao mundo.
Os sujos, vagabundos, os ninguém, de ninguém.
Eles são a dor.
A dor de quem trabalha 12 hrs por dia, de quem vai e vem no metrô lotado para pagar as contas em dia, a dor da corrupção, da injustiça, da falta de opção, a dor dos que disseram não.
Pausa.
Um homem me parou na rua e perguntou se eu queria ouvir um blues, eu disse que sim. Ele tirou um violão de uma mochila velha e o refrão era: "quem vai e vem na cidade, buscam bolas de papel, eu sou apenas um poeta e meus pensamentos vão além do céu".
Atraiu olhos desconfiados, tortos, desgostosos.
Mas hoje, ele foi a única pessoa que me fez sorrir, lhe desejei sorte e saúde.
São eles, os que carregam um violão, os jogados no chão, que levam as dores do mundo, além da suas próprias dores, que não devem ser poucas.
Que Deus os abençoe.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Não se esquece tudo, nem que se tenha a maior força de vontade, existem coisas que não se esquecem.
Um dia machucaram e cicatrizaram, mas não sumiram. Existem.
Aceitar que algo ruim aconteceu e entender que isso faz parte de você é muito mais corajoso do que dizer que se esqueceu, e viver mentindo, mentindo para si mesmo, que particularmente acho pior que mentir para o mundo inteiro, é punição.
Nós somos histórias, e toda história tem início meio e fim. O início e os meios devem ser guardados, mesmo que tenham sido indesejados.

Não é viver de passado. É apenas respeitá-lo. Ele existe e somos muito pequenos para tentar tampá-lo.
Carregamos nossas cicatrizes e por elas tomamos as atitudes de hoje.

Eu gosto de sentar no chão.
Às vezes espero todos da minha casa dormirem, só para poder ficar sozinha, sentada no chão da sala.
Não há muito conforto físico, mas para a alma, ao menos para a minha, é um dos melhores remédios.
É por saber que se por acaso, tudo acabe, e como dizem: "eu perca o chão", eu ainda terei o de concreto, gelado e desconfortável, mas terei.
Eu não sei qual é a minha voz. Mas ela é sincera e foge dos padrões do aceitável.
Amor? O meu é o mais violento que existe.
Minha alma é intensa e não sinto nada pela metade.
Eu sou um completo desrespeito.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

Estou completamente amedrontada, mas eu não vou embora.

Sou eu contra a depressão, e nessa luta, ter força não basta. 

Eu preciso do meu medo. Do meu medo de perder a batalha e ir embora.

A força me mantém em pé, mas o medo me movimenta.
Dia três do oito de dois mil e catorze, pra variar, domingo. Domingo à noite.

Entro no banheiro para escovar os dentes, e, como qualquer mulher, dou aquela conferida básica no cabelo, no rosto, nas olheiras. Preciso fazer minhas sobrancelhas, preciso falar com o médico que a dose do remédio que ele aumentou está enchendo minha cara de espinhas e que ele se vire para arrumar outro antidepressivo que não cause esse efeito colateral. Não sou obrigada a encarar o surgimento de acne aos vinte e quatro anos. Às vezes sou absolutamente fútil. Mas penso: se a depressão já me mata de tantas formas, que ao menos a minha pele continue bonita. Fútil, eu sei.
Me deito e sinto. Sinto uma angústia no peito que já estou acostumada e sei bem o que vem depois dela.
A depressão começa lá nos dedos dos meus pés, sobe e, quando chega na cabeça, choro.
Choro e penso que já estamos em agosto e eu ainda não entendi o que aconteceu em janeiro.
Penso na matéria que acabei de assistir mostrando uma atriz que eu jurava ter lá seus trinta e poucos anos, mas que na verdade é um ano mais nova que eu e está falando na tv como se soubesse alguma coisa da vida.
Penso que as pessoas mais inteligentes que conheço estão desempregadas.
Penso que as pessoas mais falsas que eu conheço se já não são, um dia serão patrões.
Penso que sempre foi assim e pensar nisso não vai mudar nada, mas não ficar inconformada também não. Então fico.
Penso que o tempo está correndo mas ao mesmo tempo parece que parou em algum dia do meu calendário mas não sei qual.
Ah sim, cada um tem seu tempo. O que é imediato para mim, pode não ser pra outra pessoa e vice versa.
Não me sinto velha, mas como todos, estou envelhecendo, os dias começam e terminam rápido demais e quando percebo, mais alguém morreu, mais alguém nasceu, mais alguém matou, mais alguém se formou, mais alguém ficou rico, mais alguém ficou pobre, mais alguém foi oprimido, mais alguém foi traído.

Dou um tempo desse texto, abro meu perfil do Facebook e vejo que um usuário anônimo me deixou uma inbox: "qual o sentido da vida para você débora mvaz?"

Não.É.Possível.Que.Essas.Coisas.Acontecem.Só.Comigo.

Fechei o facebook. E se o usuário anônimo me conhece sabe muito bem que essa pergunta não tem resposta para mim. Ponto.

Acontecem tantas coisas, alguma coisa está acontecendo agora, e agora, e agora, e é perturbador ver seu próprio rosto e dizer mentalmente que agora, e agora e agora, não sou eu que estou fazendo algo acontecer.
E não me lembro a última vez que fiz.
O que está acontecendo? A vida parou para mim, ou eu que parei para ela?
Eu estou morrendo. Me matando? Talvez.

Sou violenta demais comigo.
Ninguém nunca me machucou e nunca vai me machucar como eu.

Sei que vou dormir porque tenho remédios para isso. Sei que vou acordar porque também tenho remédios para isso. Mas ainda não me deram nenhuma droga que combata essa auto tortura. Nenhuma droga para resolver essa falência na alma.

Boa noite.