domingo, 3 de agosto de 2014

Dia três do oito de dois mil e catorze, pra variar, domingo. Domingo à noite.

Entro no banheiro para escovar os dentes, e, como qualquer mulher, dou aquela conferida básica no cabelo, no rosto, nas olheiras. Preciso fazer minhas sobrancelhas, preciso falar com o médico que a dose do remédio que ele aumentou está enchendo minha cara de espinhas e que ele se vire para arrumar outro antidepressivo que não cause esse efeito colateral. Não sou obrigada a encarar o surgimento de acne aos vinte e quatro anos. Às vezes sou absolutamente fútil. Mas penso: se a depressão já me mata de tantas formas, que ao menos a minha pele continue bonita. Fútil, eu sei.
Me deito e sinto. Sinto uma angústia no peito que já estou acostumada e sei bem o que vem depois dela.
A depressão começa lá nos dedos dos meus pés, sobe e, quando chega na cabeça, choro.
Choro e penso que já estamos em agosto e eu ainda não entendi o que aconteceu em janeiro.
Penso na matéria que acabei de assistir mostrando uma atriz que eu jurava ter lá seus trinta e poucos anos, mas que na verdade é um ano mais nova que eu e está falando na tv como se soubesse alguma coisa da vida.
Penso que as pessoas mais inteligentes que conheço estão desempregadas.
Penso que as pessoas mais falsas que eu conheço se já não são, um dia serão patrões.
Penso que sempre foi assim e pensar nisso não vai mudar nada, mas não ficar inconformada também não. Então fico.
Penso que o tempo está correndo mas ao mesmo tempo parece que parou em algum dia do meu calendário mas não sei qual.
Ah sim, cada um tem seu tempo. O que é imediato para mim, pode não ser pra outra pessoa e vice versa.
Não me sinto velha, mas como todos, estou envelhecendo, os dias começam e terminam rápido demais e quando percebo, mais alguém morreu, mais alguém nasceu, mais alguém matou, mais alguém se formou, mais alguém ficou rico, mais alguém ficou pobre, mais alguém foi oprimido, mais alguém foi traído.

Dou um tempo desse texto, abro meu perfil do Facebook e vejo que um usuário anônimo me deixou uma inbox: "qual o sentido da vida para você débora mvaz?"

Não.É.Possível.Que.Essas.Coisas.Acontecem.Só.Comigo.

Fechei o facebook. E se o usuário anônimo me conhece sabe muito bem que essa pergunta não tem resposta para mim. Ponto.

Acontecem tantas coisas, alguma coisa está acontecendo agora, e agora, e agora, e é perturbador ver seu próprio rosto e dizer mentalmente que agora, e agora e agora, não sou eu que estou fazendo algo acontecer.
E não me lembro a última vez que fiz.
O que está acontecendo? A vida parou para mim, ou eu que parei para ela?
Eu estou morrendo. Me matando? Talvez.

Sou violenta demais comigo.
Ninguém nunca me machucou e nunca vai me machucar como eu.

Sei que vou dormir porque tenho remédios para isso. Sei que vou acordar porque também tenho remédios para isso. Mas ainda não me deram nenhuma droga que combata essa auto tortura. Nenhuma droga para resolver essa falência na alma.

Boa noite.


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