terça-feira, 19 de agosto de 2014

O homem que me fez sorrir

O homem que me fez sorrir
Desci do ônibus e tropecei em um homem no chão. Sujo e largado. Não sei se estava dormindo ou desmaiado, mas certamente, abandonado.
Me doeu.
Quando cheguei na porta da estação, tinha outro, cercado de cachorros e comendo um espetinho de carne que jogaram no chão.
Dentro do terminal tinha uma mulher, desorientada, com roupas rasgadas, um cobertor tampando o corpo, cheirando mal, unhas pretas e implorando para alguém acender um cigarro para ela.
Não sei quem são, muito menos o motivo que os deixaram daquela forma. Talvez uma depressão curada com vício, ou um vício que causou uma depressão, talvez um abandono, ou, é apenas o fruto de dizer não ao mundo.
Os sujos, vagabundos, os ninguém, de ninguém.
Eles são a dor.
A dor de quem trabalha 12 hrs por dia, de quem vai e vem no metrô lotado para pagar as contas em dia, a dor da corrupção, da injustiça, da falta de opção, a dor dos que disseram não.
Pausa.
Um homem me parou na rua e perguntou se eu queria ouvir um blues, eu disse que sim. Ele tirou um violão de uma mochila velha e o refrão era: "quem vai e vem na cidade, buscam bolas de papel, eu sou apenas um poeta e meus pensamentos vão além do céu".
Atraiu olhos desconfiados, tortos, desgostosos.
Mas hoje, ele foi a única pessoa que me fez sorrir, lhe desejei sorte e saúde.
São eles, os que carregam um violão, os jogados no chão, que levam as dores do mundo, além da suas próprias dores, que não devem ser poucas.
Que Deus os abençoe.

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