sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Que pedido pode ser mais sincero, do que o de ter paz? Ah, mundo, você não enxerga que há muito tempo é a única coisa que desejo?
Não lhe custa nada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

É muito difícil definir a depressão. Eu acho que ela se parece com um tijolo que jogam na sua cabeça todos os dias quando você acorda. E sabem como é, pode-se fazer muitas coisas com um tijolo. Posso amarrá-lo aos pés e afundar, ou posso construir um prédio.
E tem sempre a sexta feira.
E tem sempre a noite de sexta feira. Ingratidão.
E tem sempre o cansaço.
Não é impaciência, tão pouco um pedido de piedade. É só pra dizer que estou cansada mesmo. Bastante.
Sempre há carros na rua. Sempre tem gente conversando na esquina. Sempre tem roupa para lavar. Sempre tem remédio para comprar.
As luzes do roteador, o barulho da geladeira, o batom que caiu no chão, o relógio gritando as horas, a TV ligada, o som da TV desligado, o cheiro de esmalte, o cachorro chorando, o barulho das teclas, o chuveiro pingando.

Há muita coisa para ser dita sobre o vazio.
Sobre o vazio da sexta feira.
Sobre a tristeza de um fim. Que seja o fim da semana.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

No psiquiatra

A cada consulta uma frustração inconsciente fica perto de mim. Porque tudo que a gente quer, e me incluo nisso, é ficar bem.
Eu quero receber alta.

Eu estava esperando na recepção, como sempre o médico estava atrasado. Mas isso a gente aprende com o tempo, não se pode cobrar pontualidade de um psiquiatra, imprevistos acontecem todos os dias dentro de suas salas. Sempre atrasa trinta, quarenta minutos. Eu espero porque uso a frase "ruim com ele, pior sem ele" quando falo do meu psiquiatra.
Enquanto esperava, entrou um homem desesperado, pedindo uma receita que o doutor tinha esquecido de entregar. Achei trágico, mas cômico. Eu sei muito bem o desespero que bate quando o remédio controlado acaba, parece que vou morrer, e sim, é uma dependência da qual não me envergonho. Existe insulina para os diabéticos, existe o Frontal para os deprimidos. Está tudo OK.

Mas então entrou uma senhora, apoiada em um homem, acho que era seu filho. De imediato ela lembrou minha vó por causa da cor do cabelo e se sentou ao meu lado enquanto o homem foi pagar a consulta. Ela segurava uma toalhinha e suas mãos tremiam muito. Ela olhou pra mim, e infelizmente, eu vi a doença nela.
Existe isso, para quem não sabe. Eu não sou médica nem nada, mas há uma identificação dolorosa pelo olhar de quem chora o mesmo choro.

Ah, meu coração, eu estava completamente derrubada pois o médico havia acrescentado mais um remédio no meu "coquetel", agora são 5.  Eu estava descrente e preocupada com mais efeitos colaterais, mais sonolência, mais tontura, mais um monte de coisa que não queria nem pensar, mas aí, a senhora sentou ao meu lado e me olhou triste. Triste.
Ela pediu um copo d'água e continuou tremendo. O homem foi dizer algo, mas ela o interrompeu falando que não estava escutando daquele lado e pediu para ele falar no outro ouvido.
Ela ficou olhando para a televisão, mas não estava assistindo. Acho que ela nem estava lá, só seu corpo.

Entrou outro homem, também apoiado em outro homem, foi direto para a outra recepção.
A secretária avisou a senhora que ela havia chegado muito adiantada e que aquele homem que chegou depois estava no horário certo e por tanto, seria atendido primeiro. Ela apenas disse: tá.

Acredito que ela tenha 70, 75 anos, e me parecia que ela não ligava mais, sabe? Não ligava como eu estava ligando naquele momento para o novo remédio, ela já não se importava mais com o que fariam dela. Mais um remédio, menos um remédio, mais uma terapia, menos terapia. Não importava mais.
Meu Deus como aquilo me deixou triste, em cinco segundos pensei no quão era injusto uma senhora estar naquela condição, porque ela deve ter trabalhado a vida inteira e agora era a hora de relaxar e apenas, viver. Em cinco segundos fiquei com medo de também chegar no momento de não me importar mais.  Em cinco segundos queria saber o que ela estava pensando.
O que ela estava pensando sobre aquele lugar, com aquelas pessoas, esperando o mesmo médico, para pegar as mesmas receitas, e tomar os mesmos remédios. O que ela achava daquilo que estava me desesperando. Ao certo ela sabe muito mais da vida do que eu.  E sendo assim, qual é o fim?

Chegou a minha vez, peguei minhas receitas, meus remédios e fui embora sem saber mais um pouco de NADA.

domingo, 19 de outubro de 2014

E por um instante, tenho vergonha de mim. Eu sei, perdi algumas batalhas. Foram e são muito visíveis, às vezes enxergam que estou morta. Mesmo dando todo meu oxigênio, morro a procura de uma solução que não existe. Você já procurou algo mesmo sabendo que não existe? Dói um pouco.

Me perguntam o que eu tanto busco. Eu não sei, eu só preciso ir, só preciso pedir para me deixarem ir sozinha, pedir para ninguém me seguir, é um caminho em que se perde facilmente, e, quando eu achar que devo, volto.

É só uma busca sem convicção, e pensar nisso me faz bem sempre que lembro que a dor é uma obrigação sem classificação. Ela existe e somos obrigados a senti-la, para então, julga-la e cura-la.

Eu sou só mais uma que não quer sobreviver, e sim, viver.
Eu sou só mais uma que foi jogada para longe.
Eu morro várias vezes. Todos os dias.
Mas como eu disse, eu perco muitas batalhas, vezes sim, vezes não, me canso de lutar, mas então me lembro que ainda venço de vez em quando.
Não é possível que só eu sei que o mundo é um monstro e mesmo assim, continuo lutando.

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Há algo que acontece na minha mente mas é meu corpo que reproduz.
Saber que algo está esmagando tanto a minha paz chamada de sanidade, a ponto de fazer o meu físico vomitar, convulsionar e me engolir com uma enxaqueca que dói os olhos e não ter a mínima ideia do que seja, é sim, castigo da alma.
Alma ferida. Ferida e chorada.

Eu escrevo o que é fraqueza para alguns. Para mim é alívio, é busca, é persistência.
A vida não tem sido muito fácil, e nem era para ser. Eu não sou muito fácil e não deixo que nada seja. Então meu corpo adoece como uma criança que chora por atenção.
Eu ponho pra fora meu coração, vomito ele no chão, caio em cima e choro.

Agora estou de pé, limpando a sujeira que fiz.
Assumindo que o que coloquei pra fora era ódio que não coube dentro de mim.
Estou pagando o castigo. Dessa vez, a culpa é minha.
Eu te odeio. Odeio cada palavra tua. Cada mentira e cada verdade.

Agora, que eu já te vomitei, pega tuas feridas e some.


sábado, 11 de outubro de 2014

O dia mais difícil da vida, é quando realmente entendemos que o nosso desastre, é só nosso.

Sou muito exposta. Mas tenho meus segredos.
Um deles é que ainda não consigo escrever teu nome e oro todos os dias para não te encontrar na rua.
Minhas gavetas estão sempre lotadas, cheia de lembranças boas e dores cruéis. Já tentei organizá-las, mas nessas tentativas, sempre me pergunto como você organizou as suas.
Deixou empoeirar? Jogou lembranças pro fundo? Queimou ou só colocou outras coisas por cima?

Minha gaveta com teu nome está intacta. Guardada em segredo, só a tirei do meu caminho.

Se você ainda tiver a sua, jogue fora, é seu lixo consumado.
E a minha é problema meu. Íntimo, que só meus textos conhecem.

E, é claro, a memória. Sempre, a memória...
A liberdade é de graça, mas encontrá-la custa caro.
É um grito interno que me ensurdece quando não lhe dou atenção.

Poxa, tristeza, ao menos venha sozinha e deixe o medo em casa. Não me force a lidar, o barulho da sexta feira já me basta pra dormir.