segunda-feira, 20 de outubro de 2014

No psiquiatra

A cada consulta uma frustração inconsciente fica perto de mim. Porque tudo que a gente quer, e me incluo nisso, é ficar bem.
Eu quero receber alta.

Eu estava esperando na recepção, como sempre o médico estava atrasado. Mas isso a gente aprende com o tempo, não se pode cobrar pontualidade de um psiquiatra, imprevistos acontecem todos os dias dentro de suas salas. Sempre atrasa trinta, quarenta minutos. Eu espero porque uso a frase "ruim com ele, pior sem ele" quando falo do meu psiquiatra.
Enquanto esperava, entrou um homem desesperado, pedindo uma receita que o doutor tinha esquecido de entregar. Achei trágico, mas cômico. Eu sei muito bem o desespero que bate quando o remédio controlado acaba, parece que vou morrer, e sim, é uma dependência da qual não me envergonho. Existe insulina para os diabéticos, existe o Frontal para os deprimidos. Está tudo OK.

Mas então entrou uma senhora, apoiada em um homem, acho que era seu filho. De imediato ela lembrou minha vó por causa da cor do cabelo e se sentou ao meu lado enquanto o homem foi pagar a consulta. Ela segurava uma toalhinha e suas mãos tremiam muito. Ela olhou pra mim, e infelizmente, eu vi a doença nela.
Existe isso, para quem não sabe. Eu não sou médica nem nada, mas há uma identificação dolorosa pelo olhar de quem chora o mesmo choro.

Ah, meu coração, eu estava completamente derrubada pois o médico havia acrescentado mais um remédio no meu "coquetel", agora são 5.  Eu estava descrente e preocupada com mais efeitos colaterais, mais sonolência, mais tontura, mais um monte de coisa que não queria nem pensar, mas aí, a senhora sentou ao meu lado e me olhou triste. Triste.
Ela pediu um copo d'água e continuou tremendo. O homem foi dizer algo, mas ela o interrompeu falando que não estava escutando daquele lado e pediu para ele falar no outro ouvido.
Ela ficou olhando para a televisão, mas não estava assistindo. Acho que ela nem estava lá, só seu corpo.

Entrou outro homem, também apoiado em outro homem, foi direto para a outra recepção.
A secretária avisou a senhora que ela havia chegado muito adiantada e que aquele homem que chegou depois estava no horário certo e por tanto, seria atendido primeiro. Ela apenas disse: tá.

Acredito que ela tenha 70, 75 anos, e me parecia que ela não ligava mais, sabe? Não ligava como eu estava ligando naquele momento para o novo remédio, ela já não se importava mais com o que fariam dela. Mais um remédio, menos um remédio, mais uma terapia, menos terapia. Não importava mais.
Meu Deus como aquilo me deixou triste, em cinco segundos pensei no quão era injusto uma senhora estar naquela condição, porque ela deve ter trabalhado a vida inteira e agora era a hora de relaxar e apenas, viver. Em cinco segundos fiquei com medo de também chegar no momento de não me importar mais.  Em cinco segundos queria saber o que ela estava pensando.
O que ela estava pensando sobre aquele lugar, com aquelas pessoas, esperando o mesmo médico, para pegar as mesmas receitas, e tomar os mesmos remédios. O que ela achava daquilo que estava me desesperando. Ao certo ela sabe muito mais da vida do que eu.  E sendo assim, qual é o fim?

Chegou a minha vez, peguei minhas receitas, meus remédios e fui embora sem saber mais um pouco de NADA.

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