quarta-feira, 21 de maio de 2014

Dos meus olhos

Quando se tem depressão, mesmo sem notar você desenvolve formas de camuflar lágrimas, principalmente em casa. Você não quer preocupar ninguém e sabe que, não há o que fazer.
É possível chorar um dia inteiro sem ninguém notar, juro.

Mas o olhar revela. Eu particularmente reconheço um deprimido pelo olhar. Pupilas dilatadas pelos remédios, mas pálpebras levemente caídas. No consultório presto muita atenção nos olhos das pessoas. Eles doem. Sei que elas também prestam atenção nos meus, há um certo entendimento na troca de olhares, é como se um dissesse pro outro: "estou sentindo sua dor".


Então esses malditos olhos que consigo esconder de alguns mas que ao mesmo tempo me revelam tanto para outros, são os mesmos que me pegam desprevenida passando em frente ao espelho do quarto, do banheiro, do bar, de qualquer lugar e não me deixam enxergar o essencial: eu.

Esses malditos olhos que só me mostram uma dor chamada de doença.
Me olho propositalmente mais de uma vez e quero me enxergar e nitidamente me reconhecer.
Mas a depressão me reconhece primeiro, e eu prefiro não olhar mais.

domingo, 18 de maio de 2014

Nenhum homem gostaria de ser meu pai muito menos meu marido, mas muitos gostariam de ser meus amantes porque pareço um personagem. 
Um personagem por ser desnecessariamente, ou necessariamente, verdadeira.
Eu sou extremamente real, e esse exagero de sinceridade às vezes me incomoda

sábado, 10 de maio de 2014

Eu não conto mais quantas vezes eu morri. E muito menos quantas vezes voltei dos mortos.
Alguma coisa aconteceu lá atrás que me deixou assim, vezes viva, vezes destruída.

Eu lembro do dia que conheci cada um de vocês, tínhamos no rosto um sorriso pleno, verdadeiro, eufórico. Claro que já lidávamos com preocupações, mas ríamos.

Risadas do fígado, como você diz Natan.
Paz. Nós vivíamos dela, né Larissa?
A faculdade parecia ser o lugar ideal para nós, fazer o que gosta, com as pessoas que gostamos, sempre foi cansativo, porém, prazeroso. Desde o primeiro ano foi assim com você, Paulo.
Festas! Meu Deus como a gente gritava, dançava, ria, abraçava! Eu e o Ícaro temos muitas histórias para contar, uma mais lindamente podre que a outra. Dá pra escrever um livro, juro.
Eu não quero voltar no tempo, primeiramente porque é impossível, e porque não quero mais aquela alegria. Ela foi gozada no momento que deveria, e foi o que fizemos.
Mas confesso que sinto saudade de soltar uma gargalhada do fígado sem depois falar sobre problemas, remédios, tristezas e mágoas. Admito que o mundo não tem sido muito fácil com a gente. Não sei ao certo quando, mas em algum momento as coisas foram desabando, e hoje, cada um de nós tem um pontinho de dor, que perdura, não sara, não vai.
Se fosse para ter aquela alegria, aceitaria se fosse com a cabeça que tenho hoje. É pedir muito, eu sei.

Quando digo essas coisas para qualquer pessoa, sempre tentam me conformar dizendo que a vida é assim mesmo e que devo me acostumar. Eu não quero me acostumar com esse jeito morno de empurrar a vida. Eu não consigo. Eu preciso de mais motivos para me manter aqui.

Nós éramos indestrutíveis e nos tornamos frágeis. E isso não é uma vergonha, isso quer dizer que nos entregamos para vida,  que vivemos nossos limites, e por mais arriscado que seja, fizemos o deveria ser feito.

Eu acordo todos os dias me perguntando porquê devo me levantar e mil coisas surgem na minha cabeça, mas nenhuma forte o bastante para eu abrir os olhos.
Mais uma vez eu morro.E mais uma vez eu vou dar um jeito de voltar a respirar.

Mas eu quero respirar com vocês. Eu quero dançar, rir, chorar, mesmo se for de tristeza, mas com a mesma força e intensidade que tínhamos. Eu não consigo aceitar que o tempo passe e fique por isso mesmo.
Em algum lugar nossas fraquezas se transformam em força e tiramos ânimo da última faísca de otimismo que nos resta. Minha dor, meus problemas, minhas drogas e meus lamentos, são prova disso.

Mas eu preciso de mais.
Vocês também.

E todas as vezes que me derrubarem, chorem comigo e depois me levem para dançar um rock.
É o que farei com vocês, sempre.

Estou me sentindo o Augusto Cury escrevendo esse texto. Que péssimo. Olhem onde eu cheguei, por favor não me deixem escrever um texto me sentindo o Paulo Coelho. Eu não suportaria.

Amo vocês.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O preconceito existe e está estampado na vida de quem possui algum transtorno e precisa do acompanhamento de um psiquiatra. Algumas pessoas ainda não entenderam que é um médico, como qualquer outro, e que fazer um tratamento não te torna incapaz de trabalhar.
Talvez se fosse um atestado de virose, diarreia, dor de estômago, de um clínico geral, ou até de um dermatologista, ok.
Mas era atestado de um psiquiatra com o CID de depressão decorrente. 
Porque como um diabético passa mal às vezes, eu também passo mal às vezes.
Mas ah, aceitar alguém que passa por psiquiatra em uma empresa é absurdo para algumas pessoas. TRISTE.
A sociedade hipócrita é mais doente que eu. Mais doente que tudo.
Sou capaz de trabalhar, e trabalho muito bem, diga-se de passagem. E o o trabalho foi uma das coisas que fizeram com que eu me erguesse e não deixasse a depressão me dominar.
But, ok. A vida é muito curta pra viver com tanta miséria de espírito e falsidade.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

E 8 horas sem o Frontal. Tremedeira, ansiedade, pânico e acho que vou morrer e certeza que é uma dependência maldita.
Faz tempo que não me sinto plena. Não porque me faltam coisas. Mas porque falta eu. Não sei onde está

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pensamos tanto nas pessoas que marcaram nossas vidas. Esquecemos que também marcamos a vida de alguém.
Ninguém sai ileso.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Sempre vejo um prédio da varanda do meu trabalho.
A maioria dos apartamentos têm flores decorando as janelas, em um são todas brancas, no outro, coloridas. Mas um cultiva dois cactos enormes que passam da varanda para fora. Fiquei me perguntando porque alguém cultiva um cacto? Sempre achei feio, opinião minha. Além da  péssima estética, machuca.
Fiquei uns 5 minutos olhando para aquilo. Me peguei na hipocrisia.
Eu também cultivo coisas feias e que machucam.


Sou muito mais ou muito menos do que você vê.