terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Faz 2 horas que tomei meus remédios para dormir e confesso que meus olhos já estão pesados.
Mas não quero me deitar, quero esperar cada um da minha casa dormir e ficar, sozinha, na sala para fazer absolutamente nada. Olhar para a parede ou no máximo a janela.

Em certos momentos não preciso de muito para ser livre. 
Me encarar no silêncio e perceber o quão isso é necessário me tira da zona de conforto e da posição de fugitiva da realidade.

Mas agora que sou livre, o que eu faço com a liberdade, aqui, no sofá e olhando para a parede?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu não gosto das sextas feiras. Existiram dias que eu gostava. Hoje em dia elas servem para deixar num estado de solidão profunda. Talvez um dia isso mude, e eu passe a odiar as segundas feiras, como todos.
Há muito tempo não ficava sozinha em casa, hoje, aqui na varanda, eu sentei para esperar o sono, que sempre me vem atrasado e coloquei uma música para tentar mudar um pouco o cenário. Mudou, está chovendo e as únicas luzes que brilham são as do Natal. Que ideia estúpida, sentar na varanda a noite, com chuva e em época de Natal. Enfim, agora já foi.
Mas ainda sobre o dia, me ocorreu algo diferente, conversei com um dos meus melhores amigos, aqueles que mesmo depois de meses, continuam o melhor amigo.
Nós discutimos sobre ignorar a opiniões dos outros, e eu enchi a boca para dizer que não me importo. De fato, não estou nem um pouco preocupada com o que conhecidos falam, pensam de mim, ex colegas da faculdade, pessoas que só passaram por mim, não me importo. Eles não sabem nada sobre mim.
Mas caí na questão do que será que as pessoas próximas pensam, julgam, e sim, é difícil lidar com uma possível decepção vinda de quem você ama, de quem faz tudo por você. Percebi que pequenos segredos guardados precisam ser mostrados e encarar as dores que isso pode me causar.

Não é pelos remédios, pelos cigarros, pelas frustrações.
É porque hoje eu entendi, que o julgo só serve de mim para mim. Ninguém pode me julgar, apontar o dedo, gritar comigo, porque tudo que eu fiz e faço, é porque quero, até mesmo quando me questiono como conseguir chegar tão baixo.

Hoje foi um dia importante, me declarei culpada e agora posso me perdoar. Somente eu, mais ninguém.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Compartilhei minha vida, minha mente e meu corpo com você.
É verdade, eu era louca, sua amante dos pés à cabeça.
E desse jeito as coisas terminaram.

Fiquei sabendo que você encontrou várias garotas, algumas do passado.
Chegou aos meus ouvidos que você está famoso, que alcançou.

Sei que as coisas demoraram muito mais para acabar para mim, eu fiquei chapada pela cena de ser deixada. E minhas lágrimas nunca secam. Nunca.
Eu era só uma menina selvagem, que até hoje não me perdoo por todas as maquiagens que estraguei por tua causa.
Eu era pequena demais para entender que o amor não é igual para todos, e pensei que chorando teria o que conseguisse, como toda criança faz.
Mas ao mesmo tempo eu era a estrela do palco, tinha muito rock and roll nos meus ouvidos tampando o barulhos dos tiros que você me acertava, e sim, você gostava disso, tinha prazer quando eu gritava para terminar logo com isso, era sádico.

Queria dizer que há perdão para tudo.
Que há perdão para meus sonhos infantis, para minhas ressacas de rainha, para minha luta.
Há perdão para o meu mundo louco, que também me disseram que você odiava.
Não tem problema, eu vivia por diversão, minha vida era diversão, até minha melancolia sorria quando você fingia estar gostando.

Algumas pessoas dizem que tenho um rosto delicado, mas meu coração é bem deprimente.

Você saiu de tudo tão são, e eu tão louca que às vezes penso que foi tudo uma farsa minha e tua. Você era o louco, e eu estava completamente sã, porque eu sentia, eu sentia, eu sentia. Você não.

Olhe para mim agora. Meu rímel está no lugar, e meu blush me deixa corada.
Eu sou uma garota triste que vive bons momentos.

Te desejo o melhor. Porque é isso que falamos para quem não conhecemos.
Te desejo o melhor. Fique bem. Sucesso.

bj.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Eu queria entender porque a maioria das pessoas odeiam as segundas feiras. Dizem que é por conta do trabalho, voltar a rotina maçante do dia a dia. Eu até entendo quando penso que a maioria das pessoas não gostam dos seus trabalhos, e vão apenas pelo dinheiro.
Não, não sou uma lunática que deseja viver de luz, sei que sacrifícios são necessários para chegarmos ao nosso objetivo, o problema é que a maioria esquece dele no meio do caminho, e tudo fica chato, sem graça, sem cor.

Eu gosto das segundas, me dá um ar de recomeço, mais ou menos ao dia 1 de janeiro, e que mesmo sabendo que nada vai recomeçar, a sensação é boa.
Sem falar que a segunda não nos deixa esquecer que existe o sábado e domingo, e nos enche de ansiedade.

Eu odeio mesmo, as sextas feiras, não quero ser do contra, já sendo.
Mas essa obrigação de alegria e sorriso no rosto não me apetece.
Sexta é um dia ótimo para pensar no descanso, em algo que queira fazer no final de semana, e também para se divertir. Mas por querer e não por obrigação.
Às vezes penso que deve existir um livro escrito como devemos nos comportar em cada dia da semana, mas nunca vi para comprar. Mas deve ter, as pessoas seguem à risca os mandamentos semanais.

Nem vou falar de fim de ano que me dá rebordose e desânimo.


Mundo, depois de tantos pedidos não atendidos. 
Imploro que ignore meu drama. Pois a histeria corre em mim e loucura me pertence. 
Mas mesmo assim, me deixa viver?

sábado, 13 de dezembro de 2014

Tenho família mineira, logo, minhas férias sempre foram em Minas.
A família da minha mãe vem de uma pequenina cidade no sul de Minas chamada Ilicínea.
Todo ano, em todas as férias, lá era o meu lugar.
Lembro vagamente de uma casa em que minha vó morou que quando fazia muito calor, enchia-se de formigas, era desesperador. Mas durante o dia esquecia das formigas e brincava com potes de danone, yakult, ou qualquer coisa do tipo. Minha irmã era mais moleque, gostava de pular muro para pegar jabuticaba. Lembro de uma vez que ela caiu, rasgou o shorts e estourou o joelho.
Enfim, depois lembro-me muito bem de um sobrado lindo pra onde meus avós se mudaram, eu adorava aquela casa, tinha 4 quartos, uma para minha vó e vô, um para meus pais, um pra mim e minha irmã e outro para visitas. Tinha uma sala grande, e uma varanda que junto com uma prima fazíamos casinha com cobertores. Eu achava um máximo porque tinha 3 quintais, isso em SP é impossível, eu ficava deslumbrada. Tinha também um galinheira atrás, eu sempre entrava pra pegar ovos ou correr das galinhas, uma vez caí na poça de titica e me sujei dos pés à cabeça, minha vó não me deixou entrar no chuveiro daquele jeito, e tive que tomar banho na pia. Lembro tanto dessa casa, do cheiro horrível da galinha sendo depenada na água morna, de pegar minhocas no quintal, de ficar na varanda olhando pro nada.
Ah, claro, tinha a roça, meu vô plantava café, criava boi, porco e tinha uma horta linda, e várias bananeiras. Nós passávamos o dia lá, meu pai fazia churrasco no fogão de lenha, montava uma piscininha para eu e minha irmã enquanto meu vô pegava cana para a gente chupar.
Eu tinha um pouco de medo de entrar no meio do cafezal porque tinha muita história com cobras por lá, então ia de vez em quando, só para ver os carocinhos vermelhos, e comer umas bolinhas pretas, não me lembro o nome, haviam boatos que era venenosa, e eu comia fantasiando que realmente eram.
Tinha a Gretchen, égua do meu vô, acredito que ele era um grande fã da conga la conga. Ela era branca, e às vezes meu vô colocava eu e minha irmã na carroceria para dar uma volta pela cidade. Eu amava aquilo.
Tudo era muito calmo.
Então meu vô ficou doente, começou com uma dor no dedão do pé, e acabou com a amputação na perna. Depois ele ficou bastante deprimido, a roça, a plantação, as bananeiras, eram a vida dele, e agora ele não podia mais cuidar. Minha vó levou adiante contratando pessoas, mas não é a mesma coisa, por fim vendeu tudo.
Um vez levamos meu vô para ver como estava a roça, fazia anos que ele não ia lá. Eu era pequena, não entendia direito o momento, mas hoje imagino a tristeza do meu vô ao ver tudo que ele cuidava com tanto amor, transformado num grande matagal. Sem nada, sem vida.
Mas como criança, minha diversão tornou-se esperar o sono da tarde do meu vô para ficar andando com a cadeira de rodas dele pra lá e pra cá na casa. Quando ele acordava, corria pra colocar a cadeira no lugar como se nada tivesse acontecido.

A casa tinha muitas escadas, o que distanciava meu vô do mundo, da rua, da calçada. Por isso, minha vó comprou a casa da frente, sem escadas, um quarto a menos e uma sala bem menor, o que fez meu vô apelida-la de ovo, o que eu achava um absurdo, meu vô não suportaria morar em SP, em ver os poucos metros quadrados em que se vive por aqui. Uma casa com três quartos, suíte, quintal, cozinha, área, pomar e dispensa? Isso aqui é luxo vovô.

Nessa casa eu já era um pouco mais velha, já entendia melhor as coisas, e percebia de longe a tristeza do meu vô, que apenas sobrevivia. Não adiantou ir pra lá, ele continuou em casa, sem andar na rua, nem na calçada, ela havia perdido a vontade de viver. Era nítido.
Um dia, ao me despedir dele, ele falou "volta rápido hein, na próxima eu posso não estar aqui". Nesse mês ele faleceu. Foi uma madrugada horrível, a única vez que vi minha vó chorando.

Eu fui crescendo, e cada vez com menos tempo para ir à Minas, não tinha mais como ficar o mês inteiro, já fazia outras coisas por aqui, tinha meus amigos e enfim.
Mas o "ir para a casa da vó" sempre foi sinônimo de paz, sempre imaginei o mundo desabando, e eu correndo para minas, porque lá o mundo não ia desabar. Era uma segurança que ainda sinto com tanta força, que me dá saudade e ao mesmo tempo, alívio.

Não quero falar sobre os meses finais da minha vó, foram muito difíceis. Eu já tinha 22 anos, entendia bem o que estava acontecendo e me doía, doía porque eu sabia que ela ia embora, eu sabia, era só uma questão de tempo.
A última vez que a vi em vida, ela me deu uma mantinha de oncinha, porque se lembrou de mim quando o moço passou vendendo.

Não preciso dizer o quão foi horrível perder minha vó, que mesmo numa cidade tão pequena, amava desfilar comigo pela cidade para mostrar minhas tatuagens. Ela ficava passando a mão tentando entender como aquele desenho não saía da pele. E sempre dizia que achava lindo.

A casa dela, hoje, da minha mãe continua lá, cuidamos como se ela estivesse cuidando, todos os seus móveis, suas rosas no jardim estão intactas. O pé de jabuticaba, de mexerica, de laranja, de temperos, estão todos lá, usufruímos de tudo com muito amor e respeito.

Minha infância em Minas não poderia ser melhor, pescando, andando a cavalo, brincando com minhoca, comendo muito doce e pão de queijo, eram coisas que nunca existiram para mim em SP.

Hoje, a casa da minha vó continua sendo meu refúgio, mesmo sem ela, só há paz naquele lugar. Durmo bem, acordo bem, tudo fica bem.
Tudo muito bem.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

O homem já foi pra lua à procura de vida. Quando vê alguém pedindo vida na rua, ignora.
O homem gasta sem critérios para preencher a cota do "ter", mas não preenche a cota do "ser".
Assistem muita televisão, dormem tarde e acordam cansados para vestir seus sapatos e financiar o banquete de outra pessoa 8 horas por dia.
Brigam e matam pelo futebol e quando chegam em casa, abraçam suas mães.
Trabalham por coisas valiosas e empobrecem seus valores.
Nascem para sobreviver, mas nunca vivem. Poluem seus próprios pulmões, jogam sua água no lixo.
Criam laços descartáveis.
O clichê é real. Respeitem seus pais, ame-os. Eles verão todas suas lágrimas. João Batista Vaz Celusa Moscardini Vaz
Cuide dos seus irmãos, eles são a terceira mão que você não tem. Lílian Moscardini Vaz
Abrace seus amigos, além de ser de graça, cura dores.
Diga que os ama, grite que são especiais.
Não sabemos até quando estaremos aqui.
Chore com eles, doe-se. Arrume mais tempo.
Não desista do amor, muito menos da paixão, estamos aqui para isso e por isso. Paulo Ricardo Matrone Larissa Rodrigues Natan Lourenço Garcia Ícaro Aragão
Sinta dor, mas sinta mais coragem para assumi-la e aceita-la.
Estamos onde deveríamos estar. Nosso caminho é um.
Beijos

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Não foi nada demais.
Foi só um jeito meio estranho de entender.
Não tem nada não.
Foi um movimento errado na hora errada.
Foram só algumas palavras.
Um desvio de olhar.
Acho que foi medo.
Tenho certeza que foi inveja.
Mas não tem problema não.
Foi algo jogado fora.
Deve ter sido um erro
Na viagem, não sei.
Pode ser algo que importou.
Mas deixa, não basta importar sozinho.

sábado, 15 de novembro de 2014

Ela não é incomum. Sua diferença é viver a realidade, enquanto a maioria, mente.
Chora sem saber o motivo, sua angústia não tem nome, sua fraqueza está no subconsciente.
Desnuda a alma para quem estiver interessado. Ela fala, fala da dor que sente.
Ela não pertence a ninguém, mas sente falta de abraços.
O abraço é a mais forte demonstração de carinho, amor e respeito que existe.
Mais que um beijo, uma transa, um telefonema.
Ela vive no mundo, exatamente como ele é, sem panos, sem ilusões. E sim, dói. O mundo é triste.
Os momentos são felizes, mas o mundo é amargo.
E ela chora.
Todos dias se pergunta "o que mais pode acontecer?" mas logo se lembra que nada tem acontecido ultimamente.
Sofre com o afastamento de algumas pessoas, é sua fragilidade.
Mas vence todo sofrimento sozinha, é sua coragem.
Não há quem diga que seja tão profundo, porque a maioria vive no raso.

Me tirou da sua casa com muito cavalheirismo. Me colocou no carro, e acertou as contas em frente à minha casa. Friamente, me colocou pra fora e saiu dirigindo, sem me olhar.
Eu procurei acalento nas palavras, e não em corpos. Sarei a carência falando. Não queria corpo algum. O meu já estava quente.

A saudade excita.

As palavras, mesmo que ásperas, são a melhor cura. Mesmo que sejam mentiras.
As palavras nos coloca onde devemos estar. Não nos deixa olhar para trás porque sempre precisamos falar para frente.

Até as que agridem, nos mostram a verdade. Aqueles que cospem agressões verbais, são sinceros. Sinceros na sua forma escrota de enxergar as situações.
Mas são sinceros.

Assim como a frieza que me colocou para fora do carro.
Verdade.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Eu não falo o que me vem a cabeça. Eu falo o que precisa ser dito.
Eu não ajo no impulso. Eu faço o que deve ser feito, na hora.
Eu realmente não penso duas vezes quando já tenho certeza de algo.

Eu enfrentei tudo com muita coragem. Às vezes acho que sou foda.

domingo, 9 de novembro de 2014

Eu poderia escrever de outra forma, usar outras palavras, apelidar meus problemas, minhas dores e minhas causas.
Mas não sei fazer.
Eu estava sentada na cama, isso há um ano, mais ou menos, e tinha um espelho do outro lado do quarto. Destruída. Naquele dia, prometi que jamais desistira de mim.
Mas aí vieram os remédios, as tesouras cortando meu braço, as convulsões, as internações, a agressão psicológica.
Desfiz a promessa. Foda-se a promessa.
Eu não sabia quem eu era, e ainda não sei.
Esses dias dois homens ao meu lado no trem, questionavam qual momento da vida descobrimos quem somos. Um apostou que aos 40 e poucos, já sabemos e terminamos a vida assim.
Senti vontade de interrompê-los e dizer que passamos a vida buscando uma identidade, e morremos sem achá-la.
Não escondi que o início de tudo foi o amor. Quer dizer, a falta de amor. Pois quem ama, não agride.
Mas o desenrolar da história, o amor ficou pequeno. Quase invisível diante de tudo que descobri sobre mim.
Eu quis morrer. E fiquei bem.
Eu quis viver. E adoeci.
Injustiças da vida que não aceito.
"Ah, Débora, pense menos, não seja tão emocional"

Não consigo, chorar me deixa bonita, e a tristeza é elegante.

domingo, 2 de novembro de 2014

A insônia é minha e ninguém tira

Faz dois anos, mais ou menos, cheguei a passar 3, 4 dias sem fechar os olhos. Sem exagero.
É perturbador estar com sono e não conseguir dormir. Quem sofre desse mal, entende bem o que estou falando.
Comecei com Rivotril, dose mínima, não adiantou, depois dose máxima, não adiantou também.
Então comecei uma busca (que ainda não acabou) para o bendito remédio que me daria uma noite cheia de bons sonhos. 6 remédios diferentes. Nenhum funcionou. O médico disse que meu organismo é muito resistente e meu psicológico mais ainda.
Chegou o Alprazolan, bendito seja, me fez dormir igual a bela dormecida nas primeiras semanas, mas, o efeito diminuiu e os problemas voltaram. Dobrei a dose, sou uma das poucas pessoas que tomam remédio para dormir de manhã. Durante um tempo funcionou, mas parou também.
Eis que surge a Carbamazepina. O médico me alertou: Débora, você vai dormir muito, mas não se preocupe, depois de duas semanas vai passar. Como tudo nessa vida, dei um Google, me deparei com centenas de depoimentos reclamando do efeito sedativo do remédio.
Tomei faz duas horas mais ou menos e o sono nem deu sinal de vida.

Aí admito, tenho uma invejinha de quem fala "ah, tomo metade de um rivo e durmo a noite toda".
Porque eu ainda estou esperando a industria farmacêutica me oferecer de fato, um sedativo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Que pedido pode ser mais sincero, do que o de ter paz? Ah, mundo, você não enxerga que há muito tempo é a única coisa que desejo?
Não lhe custa nada.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

É muito difícil definir a depressão. Eu acho que ela se parece com um tijolo que jogam na sua cabeça todos os dias quando você acorda. E sabem como é, pode-se fazer muitas coisas com um tijolo. Posso amarrá-lo aos pés e afundar, ou posso construir um prédio.
E tem sempre a sexta feira.
E tem sempre a noite de sexta feira. Ingratidão.
E tem sempre o cansaço.
Não é impaciência, tão pouco um pedido de piedade. É só pra dizer que estou cansada mesmo. Bastante.
Sempre há carros na rua. Sempre tem gente conversando na esquina. Sempre tem roupa para lavar. Sempre tem remédio para comprar.
As luzes do roteador, o barulho da geladeira, o batom que caiu no chão, o relógio gritando as horas, a TV ligada, o som da TV desligado, o cheiro de esmalte, o cachorro chorando, o barulho das teclas, o chuveiro pingando.

Há muita coisa para ser dita sobre o vazio.
Sobre o vazio da sexta feira.
Sobre a tristeza de um fim. Que seja o fim da semana.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

No psiquiatra

A cada consulta uma frustração inconsciente fica perto de mim. Porque tudo que a gente quer, e me incluo nisso, é ficar bem.
Eu quero receber alta.

Eu estava esperando na recepção, como sempre o médico estava atrasado. Mas isso a gente aprende com o tempo, não se pode cobrar pontualidade de um psiquiatra, imprevistos acontecem todos os dias dentro de suas salas. Sempre atrasa trinta, quarenta minutos. Eu espero porque uso a frase "ruim com ele, pior sem ele" quando falo do meu psiquiatra.
Enquanto esperava, entrou um homem desesperado, pedindo uma receita que o doutor tinha esquecido de entregar. Achei trágico, mas cômico. Eu sei muito bem o desespero que bate quando o remédio controlado acaba, parece que vou morrer, e sim, é uma dependência da qual não me envergonho. Existe insulina para os diabéticos, existe o Frontal para os deprimidos. Está tudo OK.

Mas então entrou uma senhora, apoiada em um homem, acho que era seu filho. De imediato ela lembrou minha vó por causa da cor do cabelo e se sentou ao meu lado enquanto o homem foi pagar a consulta. Ela segurava uma toalhinha e suas mãos tremiam muito. Ela olhou pra mim, e infelizmente, eu vi a doença nela.
Existe isso, para quem não sabe. Eu não sou médica nem nada, mas há uma identificação dolorosa pelo olhar de quem chora o mesmo choro.

Ah, meu coração, eu estava completamente derrubada pois o médico havia acrescentado mais um remédio no meu "coquetel", agora são 5.  Eu estava descrente e preocupada com mais efeitos colaterais, mais sonolência, mais tontura, mais um monte de coisa que não queria nem pensar, mas aí, a senhora sentou ao meu lado e me olhou triste. Triste.
Ela pediu um copo d'água e continuou tremendo. O homem foi dizer algo, mas ela o interrompeu falando que não estava escutando daquele lado e pediu para ele falar no outro ouvido.
Ela ficou olhando para a televisão, mas não estava assistindo. Acho que ela nem estava lá, só seu corpo.

Entrou outro homem, também apoiado em outro homem, foi direto para a outra recepção.
A secretária avisou a senhora que ela havia chegado muito adiantada e que aquele homem que chegou depois estava no horário certo e por tanto, seria atendido primeiro. Ela apenas disse: tá.

Acredito que ela tenha 70, 75 anos, e me parecia que ela não ligava mais, sabe? Não ligava como eu estava ligando naquele momento para o novo remédio, ela já não se importava mais com o que fariam dela. Mais um remédio, menos um remédio, mais uma terapia, menos terapia. Não importava mais.
Meu Deus como aquilo me deixou triste, em cinco segundos pensei no quão era injusto uma senhora estar naquela condição, porque ela deve ter trabalhado a vida inteira e agora era a hora de relaxar e apenas, viver. Em cinco segundos fiquei com medo de também chegar no momento de não me importar mais.  Em cinco segundos queria saber o que ela estava pensando.
O que ela estava pensando sobre aquele lugar, com aquelas pessoas, esperando o mesmo médico, para pegar as mesmas receitas, e tomar os mesmos remédios. O que ela achava daquilo que estava me desesperando. Ao certo ela sabe muito mais da vida do que eu.  E sendo assim, qual é o fim?

Chegou a minha vez, peguei minhas receitas, meus remédios e fui embora sem saber mais um pouco de NADA.

domingo, 19 de outubro de 2014

E por um instante, tenho vergonha de mim. Eu sei, perdi algumas batalhas. Foram e são muito visíveis, às vezes enxergam que estou morta. Mesmo dando todo meu oxigênio, morro a procura de uma solução que não existe. Você já procurou algo mesmo sabendo que não existe? Dói um pouco.

Me perguntam o que eu tanto busco. Eu não sei, eu só preciso ir, só preciso pedir para me deixarem ir sozinha, pedir para ninguém me seguir, é um caminho em que se perde facilmente, e, quando eu achar que devo, volto.

É só uma busca sem convicção, e pensar nisso me faz bem sempre que lembro que a dor é uma obrigação sem classificação. Ela existe e somos obrigados a senti-la, para então, julga-la e cura-la.

Eu sou só mais uma que não quer sobreviver, e sim, viver.
Eu sou só mais uma que foi jogada para longe.
Eu morro várias vezes. Todos os dias.
Mas como eu disse, eu perco muitas batalhas, vezes sim, vezes não, me canso de lutar, mas então me lembro que ainda venço de vez em quando.
Não é possível que só eu sei que o mundo é um monstro e mesmo assim, continuo lutando.

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Há algo que acontece na minha mente mas é meu corpo que reproduz.
Saber que algo está esmagando tanto a minha paz chamada de sanidade, a ponto de fazer o meu físico vomitar, convulsionar e me engolir com uma enxaqueca que dói os olhos e não ter a mínima ideia do que seja, é sim, castigo da alma.
Alma ferida. Ferida e chorada.

Eu escrevo o que é fraqueza para alguns. Para mim é alívio, é busca, é persistência.
A vida não tem sido muito fácil, e nem era para ser. Eu não sou muito fácil e não deixo que nada seja. Então meu corpo adoece como uma criança que chora por atenção.
Eu ponho pra fora meu coração, vomito ele no chão, caio em cima e choro.

Agora estou de pé, limpando a sujeira que fiz.
Assumindo que o que coloquei pra fora era ódio que não coube dentro de mim.
Estou pagando o castigo. Dessa vez, a culpa é minha.
Eu te odeio. Odeio cada palavra tua. Cada mentira e cada verdade.

Agora, que eu já te vomitei, pega tuas feridas e some.


sábado, 11 de outubro de 2014

O dia mais difícil da vida, é quando realmente entendemos que o nosso desastre, é só nosso.

Sou muito exposta. Mas tenho meus segredos.
Um deles é que ainda não consigo escrever teu nome e oro todos os dias para não te encontrar na rua.
Minhas gavetas estão sempre lotadas, cheia de lembranças boas e dores cruéis. Já tentei organizá-las, mas nessas tentativas, sempre me pergunto como você organizou as suas.
Deixou empoeirar? Jogou lembranças pro fundo? Queimou ou só colocou outras coisas por cima?

Minha gaveta com teu nome está intacta. Guardada em segredo, só a tirei do meu caminho.

Se você ainda tiver a sua, jogue fora, é seu lixo consumado.
E a minha é problema meu. Íntimo, que só meus textos conhecem.

E, é claro, a memória. Sempre, a memória...
A liberdade é de graça, mas encontrá-la custa caro.
É um grito interno que me ensurdece quando não lhe dou atenção.

Poxa, tristeza, ao menos venha sozinha e deixe o medo em casa. Não me force a lidar, o barulho da sexta feira já me basta pra dormir.

sábado, 27 de setembro de 2014

A solidão sem hora marcada

A solidão sem hora marcada

Sábado não combina com solidão, é dia de festa, de descanso, de rever amigos e esquecer preocupações. Normalmente, a solidão pertence ao domingo.
Mas entre as dezenas formas de solidão, a que me ocorreu no sábado, teria que ser diferente.

Sexta planejei o dia; iria entregar peças de roupas do meu brechó, dar uma volta na Paulista e mais tarde visitar um amigo.
Entreguei as roupas, fui para a Paulista entrei na Livraria Cultura, e fiquei. Só.
Sem dinheiro e créditos, até pensei em ligar para alguém, cheguei a mandar mensagem para um amigo porque o instinto de ficar a sós comigo mesma já alertava que iria enfrentar a tarde sozinha.
Abracei a solidão com todo amor do mundo, dei boas vindas, e a deixei sentar. Quando a olhei vi que era solidão necessária, não aquela que dói, mas a que provoca liberdade e independência.

Estou lendo o novo livro da Christiane F., sempre que venho aqui, sento no chão e leio um pedaço, daqui a pouco termino o livro sem nunca ter comprado.

Tem muita gente aqui, muita gente fazendo o mesmo que eu, alguns estão dormindo nos puffs, outros matando o tempo apenas para carregar o celular e roubar o wifi. Também  têm crianças no segundo andar, jogando pra lá e pra cá livro coloridos, cds e enlouquecendo os pais.

Não importa.  Eu sei que nem sempre será assim, mas quando possível, reverterei a solidão para a liberdade.
Estar só, também é uma bela forma de segurança, e respirar, de viver independente de qualquer coisa e pessoa. Isso é  ótimo.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A mulher de uma tristeza só

A mulher de uma tristeza só.

Ela falava baixo, sempre com aquele sotaque mineiro lá do sul das conhongas.
Dona de casa, esposa do seu próprio primo, algo comum para a época. Preservar o sobrenome.
Mas quando digo que era dona de casa, quero dizer o "dona" em todos os sentidos possíveis que existem. Era ela que mandava. O marido plantava café na roça. E ela matava a galinha do almoço em casa.
Teve engravidou três vezes, um aborto, e um casal de filhos, que futuramente gerariam quatros netas e 3 bisnetas. Um lar dominado pelas mulheres.
Como dona de casa, cozinha como ninguém. O cheiro dos paes de queijo com pernil, do arroz com feijão frescos e dos biscoitos de polvilho, ah, inconfudiveis.
Sem falar na horta cheia de jabuticabas, mexiricas, temperos, laranja, e o mais importe: as rosas. Lindas, que ela cultivava diariamente com amor, amor puro, amor de graça.
Ela andava devagar, sempre calma, arruma as camas, limpava os móveis, sempre pensando em alguém.  Não cozinhava para si, e sim para os outros.
Tinha uma mania de usar a mesma toalha de banho toda furada mesmo com o guarda roupa cheio de toalhas novas. Usava os mesmos panos de pratos velhos, a toalha de mesa velha, e tinha tudo novo no armário. Uma mania que ninguém entendi e que não adiantava contrariar.
Ela era o amor, o amor em forma de pessoa, sei bem pouco do seu passado, mas sei que ela amou verdadeiramente, e pra mim, isso já diz muito sobre a pessoa.
Ela amava o marido mais que tudo. Quando ele, enfermo, precisou de uma cadeira de rodas, imediatamente ela arrumou uma casa menor e sem escadas para, segundo ela, ele poder andar no passeio, mesmo ele nunca tento feito isso.
Além de ser dona de casa, agora também era dona do seu marido. Remédios, banho, caronas para o hospital, comida, por para deitar, tudo, tudo, era ela que fazia.
O amor, que me inspira todos os dias, não dava a isso um peso, e sim, pureza.
"Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença". Não por obrigação, nunca.
Mas ela cumpriu muito bem o seu papel de quem ama. Até os últimos momentos.
Sentada, depois de uma madrugada inteira ao lado do caixão, ela cochilou e acordou assustada com uma lágrima no olho, a única vista naquela noite, que demonstrava dores profundas que haviam se formado naquele momento. Uma lágrima.

Mas ela continuava dona da casa, dos filhos, dos netos, bisnetos, e das rosas.
Todas as vezes que alguém falava com ela sobre o Zé, seu marido, os olhos molhavam, mas a lágrima não caía.
Mas era amor.

Por incrível que parece, numa cidade pequena, cheia de tradições, ela era completamente independente, fazia e falava o que queria. Se fosse nas grandes metrópoles, acredito que seria ouvida por muita gente. Era sábia.
Sentava em um banquinho na calçada e proseava com todos que passavam, com as costas já curvadas da idade, atravessava bem devagar a rua, para encontrar com as comadres do outro lado e sentar com elas para saber as novidades da cidade. Nenhuma mulher, em nenhuma idade dispensa saber que o fulano traiu a fulana com a vizinha.

Ela não sabia direito o que era, como se faziam, mas amava tatuagens, admirava, quando via alguma, acariciava e elogiava as cores


quinta-feira, 25 de setembro de 2014



Só conseguia ver aquela cena rodando na minha cabeça: mãos e pés amarrados com cordas e boca amordaçada.
O mundo parecia muito estranho naquela semana. Mais que o normal.
Enquanto estive presa, tive tempo de observar detalhes que ao mesmo tempo me acolhiam, me deixavam triste.
Eu não conseguia me mexer e precisava de alguém até mesmo para conferir quantos comprimidos ainda restavam na caixa de cada um dos remédios. Certamente não havia mais de onde tirar esforço para tentar fugir daquela prisão.
Mesmo sem saída, eu ainda enxergava. Esqueceram de tampar meus olhos, então eu via com clareza a vida de muita gente; os amigos, o trabalho, a família, as festas, a liberdade.
Me sentia extremamente aliviada por não ter que fingir em nenhuma dessas situações, mas me sentia muito mais angustiada em saber que eu não podia fazer nada daquilo sendo quem sou.
Conhecia minhas qualidades e sabia que as tinha, era como se o mundo tivesse fechado as portas para elas por um tempo, e esquecido de abrir.
E não adiantava nem pensar em reclamar, minha boca estava fechada e a comunicação era apenas visual.
Eu queria dizer ao mundo que não desejava que ele fechasse as portas de ninguém para eu não ficar para trás, porque era essa sensação que tinha, eu só desejava que ele deixasse um vão, uma fenda que eu pudesse sozinha terminar de abrir.
Eu só precisava de um contato visual para tentar mandar a mensagem.
O restante, o tempo perdido, as dores, os remédios, eu resolvia sozinha.
Juro.



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Eu já chorei 24h consecutivas e fiquei 5 dias sem dormir, sem tomar banho e sem comer. Mais de uma vez.
É como estar morta, porém, sem o alívio da morte. Sem o descanso por direito.
Me perguntava como era possível viver daquela forma ridícula e inacreditavelmente repugnante.
Mas persisti porque o medo e a angustia atingiram níveis tão altos, que seria muito chato deixar esse fundo de poço de lado.  Não ia sair barato.
Eu pensava que talvez tivesse nascido para ser outra mulher.
Talvez outra mulher vivesse no meu corpo e sentisse por mim.
Mas independente das possibilidades, não havia como recorrer.

Sinto demais, penso demais, amo demais e, vezes sim, vezes não, odeio demais.
Mas meu orgulho cabe dentro da minha melancolia, que sempre foi o meu pilar.
Melancolia é o cansaço de buscas intermináveis e inúteis que não nos deixam parar.

Superação tem muito mais a ver com aceitação, do que com esquecimento e indiferença.

domingo, 21 de setembro de 2014

Nem que eu escreva mil textos, frases, crônicas. Não seria suficiente, não importaria de nada, não iria fazer diferença.
Nem que eu sonhe inspirações, ou desilusões. Nada ajudaria.
Nem que a minha vida fosse para explicar, mostrar, exemplificar. Não adiantaria.

Porque isso é um veneno, e eu sou uma garota envenenada.

sábado, 20 de setembro de 2014

Em um minuto estou viva, sou dona do mundo. A parede em que me apoio é minha, porque eu vivo e ela não. As pessoas que eu vejo são minhas, porque elas não me veem. A ruas são minhas porque eu escolhi o caminho, escolhi a calçada, o farol, e a faixa de pedestres que vou usar.
O mundo é meu.

Em um segundo. Eu sou do mundo.
Compre carros na Renaut. Motel Ibiza. Quarta é dia de feira. Promoção da sexta. GM direto da fábrica. Estude no Singular. Primavera verão na C&A. Restaurante Vegetariano. Culinária árabe. Óticas com grandes marcas. Vote em mim. Vote nulo. Compre seu celular em 10x sem juros. Tudo para motos. Depilação a lazer. Plástica sem dor. Maquiagem definitiva. Economia é no Extra.  Coca Cola, abra a felicidade. Mc Sensação. Apartamentos com 2 e 3 dormitórios. Smart Fit. Culto de Poder. Cinema 3D é no Cinemark. O shopping da família. Economize água. Beba água.

Ah, um segundo e a cidade não me deixa respirar. O mundo não é meu.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Não há o que fazer. Acabaram-se as opções.
Então pegue seu inferno, mate-o por dentro, e comece de novo e de novo e de novo.
Não estou falando de alma, é mais que alma, é por inteiro. É massacrante e cansativo lutar sabendo que não existirá um final justo. Então pare de se defender, e mate-o. Se não conseguir, por hora, ignore-o e vá respirar, ao menos por hoje, ao menos no final desse texto.
As piores doenças não estão nas ruas, nas pessoas, no lugar, nos beijos, nos abraços, na atração. Elas estão nos olhares, nos detalhes, na respiração, nas palavras e no silêncio.
Pequenos pecados cometidos com histeria por alguém que vive para matar o inferno.
Que haja perdão.

domingo, 14 de setembro de 2014

Preciso inventar uma estrada e sumir. Mas assim que possível, eu volto.
Não adianta tentar me seguir, são círculos e círculos para tentar encontrar meu lugar, onde haja segurança.
Mas eu volto, eu sempre volto pois percebo que a dor não é uma estrada sem fim, nós  aprendemos a senti-la,  e mesmo correndo, mudando a rota e sem direção quando olhamos para o outro lado  nos deparamos com ela.
Volto com a esperança de ter aqueles que confio, me esperando.

É uma viagem que me leva para longe, me empurra pra baixo e me faz subir escalando andando. Mas eu sempre volto, eu sempre vou voltar.
Prometo.





quarta-feira, 10 de setembro de 2014

E o hoje acabou.
Engana-se quem pensa que um dia acabado é sinônimo que o tempo passou.
O tempo não corre do nosso lado e ele odeia relógios.
Se nem o tempo sabe que horas são, não há horário certo para o fim do desespero.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Eu sinto tanto sua falta
Sinto tanto sua falta
Mas não quero escrever sobre você.

Você nunca mais olhou nossas fotografias? Eu olhei, nós éramos perfeitos. Perfeitos demais.
Eu muito perfeita para você, você muito perfeito para mim.

Então você foi embora, em busca de um lugar onde a perfeição só existisse pra você.

Eu ainda sinto tanto sua falta. Olhe nossas fotos qualquer dia desses, você vai se lembrar o que é perfeição.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A culpa não é de ninguém, Débora. E ninguém tem a obrigação de te entender. 
Muitas pessoas vão se afastar sim, mas não veja isso como algo negativo, os verdadeiros realmente são poucos.

Pode acontecer de alguém te conhecer e te achar incrível, e depois te achar um nada. Mas isso também não é culpa deles, a culpa é da falta de informação.
Sim, Débora; nos piores momentos, você sempre estará sozinha, mesmo se estiver cercada de pessoas, um muro vai isolar sua dor e você nunca vai conseguir dividi-la com ninguém.
Nem deve, você sabe que precisa dialogar com ela a sós.
A vida é sua, os problemas são seus e quem ficar ao seu lado ficará por amor, porque todo mundo sabe que essa dor não é entendível e o máximo que você vai conseguir, é escrever sobre ela.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Me achava indestrutível. 
Nunca imaginaria, que o ia me destruir, nasceu comigo.
Correndo em círculos. E andando devagar.
É dolorido ver como mentes severas são chamadas de personalidade.
Mentes severas deixam marcas e me empurram, pro lugar errado. Pra baixo, e para longe. Inventam estradas até então, inexistentes.
E sou obrigados a ficar lá, como se ninguém mais no mundo olhasse por mim.
Mas é só um círculo e a maldade cura-se aos poucos. Não do maldoso, mas da suas vítimas.
Enquanto isso, encontro força para correr atrás daqueles que me querem bem, que me fazem bem e enxergam em mim sinceridade, que não é maldosa, apenas verdadeira.
Me mostram que errar é um compromisso que tenho comigo. E por mais que eu fuja, são círculos, círculos...

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Um dia sem remédio

Dois anos tomando 13 comprimidos por dia. Dois antidepressivos. Um dia sem. Desabo.

Se a alegria pode ser feita em um laboratório, que assim seja.

Mas quando e como cheguei aqui? Lembro-me da última vez que minhas pretensões de vida eram reais, possíveis e maravilhosas.
Sumiram.
De um dia pro outro, acordei, levantei, e não tinha mais nada. Absolutamente nada.
Eu sumi.
O choro. Ele tinha alguns motivos, vários na verdade. Hoje as razões são outras, mas mesmo assim, a angústia do "até quando?" permanece.
Ah, quando é que vou acordar e tudo vai voltar ao normal? Já me disseram que é impossível. Um vez destruída, pra sempre marcada.
Marca do erro, do sonho não realizado, das expectativas frustradas, da doença e de mim.
Marca de mim.
Não se espante comigo, se eu levantei hoje, é porque venci. Mas a vida não é só de vitórias, não é mesmo?

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Talvez já esteja na hora de criar uma vida em que eu possa ser alguém. Alguém no sentido de ter algo para ser esse alguém.
Ou ao menos ter uma pretensão.
Eu não tenho pretensões, tenho sonhos. E talvez você que me lê, ache isso magnifico e poético. Mas você não sabe como é viver sem direção, ou simplesmente abandonar a direção.
Existem aqueles olhares, aquelas perguntas e os comentários que fazem quando não estou.
Existe também a velha sensação de deslocamento, a todo instante. Demora-se muito para se acostumar com ela, e às vezes dói.
Não que eu queira fugir dos padrões, mas eu não consigo acreditar que esse mundo é real, que eu realmente preciso abaixar a cabeça para ter meu dinheiro, e ter meu dinheiro para ter meu nome. Eu não consigo ou talvez, não queira. Que seja. Não preciso de um nome.
Minha alma é tão maior que tudo que eu tento pensar, não cabe em um uniforme, não cabe em uma linha, não cabe em um diploma, não cabe nem dentro de mim.
Essa transição para ser alguém não pode ser tão angustiante só para mim, será que ninguém mais enxerga o que eu vejo, o erro, o fabricado e os olhos fechados? É egoísmo pensar que sou a única.

Às vezes eu choro sem motivo e concluo que é o mundo que me faz chorar. Nesses momentos passa na minha cabeça a ideia de que o erro não sou eu, e sim, o mundo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O homem que me fez sorrir

O homem que me fez sorrir
Desci do ônibus e tropecei em um homem no chão. Sujo e largado. Não sei se estava dormindo ou desmaiado, mas certamente, abandonado.
Me doeu.
Quando cheguei na porta da estação, tinha outro, cercado de cachorros e comendo um espetinho de carne que jogaram no chão.
Dentro do terminal tinha uma mulher, desorientada, com roupas rasgadas, um cobertor tampando o corpo, cheirando mal, unhas pretas e implorando para alguém acender um cigarro para ela.
Não sei quem são, muito menos o motivo que os deixaram daquela forma. Talvez uma depressão curada com vício, ou um vício que causou uma depressão, talvez um abandono, ou, é apenas o fruto de dizer não ao mundo.
Os sujos, vagabundos, os ninguém, de ninguém.
Eles são a dor.
A dor de quem trabalha 12 hrs por dia, de quem vai e vem no metrô lotado para pagar as contas em dia, a dor da corrupção, da injustiça, da falta de opção, a dor dos que disseram não.
Pausa.
Um homem me parou na rua e perguntou se eu queria ouvir um blues, eu disse que sim. Ele tirou um violão de uma mochila velha e o refrão era: "quem vai e vem na cidade, buscam bolas de papel, eu sou apenas um poeta e meus pensamentos vão além do céu".
Atraiu olhos desconfiados, tortos, desgostosos.
Mas hoje, ele foi a única pessoa que me fez sorrir, lhe desejei sorte e saúde.
São eles, os que carregam um violão, os jogados no chão, que levam as dores do mundo, além da suas próprias dores, que não devem ser poucas.
Que Deus os abençoe.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Não se esquece tudo, nem que se tenha a maior força de vontade, existem coisas que não se esquecem.
Um dia machucaram e cicatrizaram, mas não sumiram. Existem.
Aceitar que algo ruim aconteceu e entender que isso faz parte de você é muito mais corajoso do que dizer que se esqueceu, e viver mentindo, mentindo para si mesmo, que particularmente acho pior que mentir para o mundo inteiro, é punição.
Nós somos histórias, e toda história tem início meio e fim. O início e os meios devem ser guardados, mesmo que tenham sido indesejados.

Não é viver de passado. É apenas respeitá-lo. Ele existe e somos muito pequenos para tentar tampá-lo.
Carregamos nossas cicatrizes e por elas tomamos as atitudes de hoje.

Eu gosto de sentar no chão.
Às vezes espero todos da minha casa dormirem, só para poder ficar sozinha, sentada no chão da sala.
Não há muito conforto físico, mas para a alma, ao menos para a minha, é um dos melhores remédios.
É por saber que se por acaso, tudo acabe, e como dizem: "eu perca o chão", eu ainda terei o de concreto, gelado e desconfortável, mas terei.
Eu não sei qual é a minha voz. Mas ela é sincera e foge dos padrões do aceitável.
Amor? O meu é o mais violento que existe.
Minha alma é intensa e não sinto nada pela metade.
Eu sou um completo desrespeito.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

Estou completamente amedrontada, mas eu não vou embora.

Sou eu contra a depressão, e nessa luta, ter força não basta. 

Eu preciso do meu medo. Do meu medo de perder a batalha e ir embora.

A força me mantém em pé, mas o medo me movimenta.
Dia três do oito de dois mil e catorze, pra variar, domingo. Domingo à noite.

Entro no banheiro para escovar os dentes, e, como qualquer mulher, dou aquela conferida básica no cabelo, no rosto, nas olheiras. Preciso fazer minhas sobrancelhas, preciso falar com o médico que a dose do remédio que ele aumentou está enchendo minha cara de espinhas e que ele se vire para arrumar outro antidepressivo que não cause esse efeito colateral. Não sou obrigada a encarar o surgimento de acne aos vinte e quatro anos. Às vezes sou absolutamente fútil. Mas penso: se a depressão já me mata de tantas formas, que ao menos a minha pele continue bonita. Fútil, eu sei.
Me deito e sinto. Sinto uma angústia no peito que já estou acostumada e sei bem o que vem depois dela.
A depressão começa lá nos dedos dos meus pés, sobe e, quando chega na cabeça, choro.
Choro e penso que já estamos em agosto e eu ainda não entendi o que aconteceu em janeiro.
Penso na matéria que acabei de assistir mostrando uma atriz que eu jurava ter lá seus trinta e poucos anos, mas que na verdade é um ano mais nova que eu e está falando na tv como se soubesse alguma coisa da vida.
Penso que as pessoas mais inteligentes que conheço estão desempregadas.
Penso que as pessoas mais falsas que eu conheço se já não são, um dia serão patrões.
Penso que sempre foi assim e pensar nisso não vai mudar nada, mas não ficar inconformada também não. Então fico.
Penso que o tempo está correndo mas ao mesmo tempo parece que parou em algum dia do meu calendário mas não sei qual.
Ah sim, cada um tem seu tempo. O que é imediato para mim, pode não ser pra outra pessoa e vice versa.
Não me sinto velha, mas como todos, estou envelhecendo, os dias começam e terminam rápido demais e quando percebo, mais alguém morreu, mais alguém nasceu, mais alguém matou, mais alguém se formou, mais alguém ficou rico, mais alguém ficou pobre, mais alguém foi oprimido, mais alguém foi traído.

Dou um tempo desse texto, abro meu perfil do Facebook e vejo que um usuário anônimo me deixou uma inbox: "qual o sentido da vida para você débora mvaz?"

Não.É.Possível.Que.Essas.Coisas.Acontecem.Só.Comigo.

Fechei o facebook. E se o usuário anônimo me conhece sabe muito bem que essa pergunta não tem resposta para mim. Ponto.

Acontecem tantas coisas, alguma coisa está acontecendo agora, e agora, e agora, e é perturbador ver seu próprio rosto e dizer mentalmente que agora, e agora e agora, não sou eu que estou fazendo algo acontecer.
E não me lembro a última vez que fiz.
O que está acontecendo? A vida parou para mim, ou eu que parei para ela?
Eu estou morrendo. Me matando? Talvez.

Sou violenta demais comigo.
Ninguém nunca me machucou e nunca vai me machucar como eu.

Sei que vou dormir porque tenho remédios para isso. Sei que vou acordar porque também tenho remédios para isso. Mas ainda não me deram nenhuma droga que combata essa auto tortura. Nenhuma droga para resolver essa falência na alma.

Boa noite.


domingo, 27 de julho de 2014

Passo a semana aos trancos e barrancos. Mas o domingo só não é pior que uma sexta a noite.
A diferença é que a sexta é noite, e o domingo é o dia inteiro.
Dia de pensar? Ah, não. Eu penso muito todos os dias, estou sempre tentando ficar em paz ou me entregando. A depressão te deixa egoísta, você só pensa em você.

Eu sou egoísta, só gosto de falar de mim.
Só gosto de sofrer por mim. Só gosto de prejudicar a mim. Só gosto de chorar por mim.

Enfim, não pensei que enfrentar o que chamam de "recuperação" de uma crise severa de depressão, seria tão estranho. Eu pensei que um dia levantaria e mundo estaria como antes. Mas já entendi que não importa quanto tempo passe, é crônico.Isso não é um problema.

Fiquei muito tempo sem conseguir levantar da cama e hoje consigo, uma vitória? Sim, mas demoro no mínimo meia hora para tomar coragem. Acordo muitas, muitas vezes durante a noite, com a sensação de sempre: coração disparado, mãos suando e achando que de alguma forma, estou morrendo. Abro os olhos, percebo que está tudo bem, estou em casa, respiro e volto a dormir.

Sair? Inúmeras tentativas, faço de tudo, mas não posso evitar de contar que me troco 2h, 3h antes de sair de casa, só para não desistir de ir, foi a forma que encontrei de sabotar o instinto de permanecer no quarto.
Ainda não enfrento as madrugadas, não posso com ela.

As dores? Continuam. Caio, choro, dói, e meu Deus como dói! Minha opinião permanece: se eu pudesse escolher em quebrar os dois braços e as duas pernas ao invés de 5 minutos de depressão, nem pensaria, já estaria toda engessada.
É um mal que verdadeiramente não desejo à ninguém, de coração.

Mas agora tenho outro problema: a confiança das pessoas. Quando eu estava pesando 40 quilos, deitada na cama há dias, ninguém confiava em mim. Sabiam da minha fragilidade. Respeitavam aquele momento. Não haviam motivos para eu sair dali.

Hoje parei para pensar e percebi que eu, sempre tão exposta, estou fingindo.
Estou fingindo estar sempre bem, sempre disposta e curada, como alguns já me disseram.
Meu pedido é: por favor, não confiem em mim. Eu posso falhar, e minhas falhas costumam ser feias.
Eu não posso levar isso a diante, porque ainda sinto um piano nas costas. E não consigo carregar.
Sou extremamente depressiva, e extremamente empolgante. Poucos sabem lidar com isso.
Por tanto, não confiem em mim. Hoje estou escrevendo isso, amanhã talvez esteja escrevendo um roteiro de comédia.
Assim. Rápido mesmo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Então era melhor andar de mãos dadas com a verdade e encarar a solidão ao invés de fingir uma liberdade cercada de pessoas gentis.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A terapia.

No primeiro dia, não sabia onde sentar, o que falar, como começar. Apenas chorei.
No segundo desabafei.
Do terceiro em diante me questionei, me olhei no espelho desmascarada. Enfrentei e enfrento meus medos, minhas angústias e principalmente, meus defeitos.
Ouvi que só loucos fazem terapia, engano, precisa de muita coragem para sentar na frente de alguém que não sabe absolutamente nada sobre você e abrir sua vida, sua alma.
A terapia te conforta, mas também te bate. Mas é aquele tapa de ensinamento. Aquele tapa na cara para assumir que você erra, e erra feio. Mostra que você está longe de ser perfeito, mostra que a perfeição existe.
A terapia me mostra verdades, mostra que nunca mais serei a mesma e preciso encontrar uma boa forma de aceitar isso.
É preciso força para admitir que não conseguimos sozinhos e precisamos de um profissional para nos colocar frente a frente com a nossa pior e melhor parte e assim, evoluir.

domingo, 6 de julho de 2014

É difícil assumir que estava cega até uns dias atrás. 

Sempre fui completamente a favor de campanhas sensatas para a valorização da mulher como ser humano. Mas é fácil olhar de fora e julgar o que é certo e o que é errado. 
Quando é com a gente, fica estranho definir uma posição de imediato.

Por muito tempo me culpei. Achei que eu deveria ter descido as escadas e ido embora com mil palavras engasgadas. Eu teria evitado aquela ameaça.
Mas sempre fui extremamente intensa e eu não consigo dormir se não vomito tudo o que tenho a dizer para alguém. Dei meia volta e não desci as escadas. Falei e apontei o dedo, sim, na cara, da mesma forma que também apontaram na minha. 
Se eu estava descontrolada? Estava. Minha emoções estavam embaralhadas de tal forma, que se perguntassem meu nome, eu não saberia responder. Mas sabia que precisava falar. Desabafar. 

Quem te acaricia hojete apunhala amanhã.

Minha alma foi pisada com aquelas palavras. "Tira ela daqui, se não eu meto a mão na cara dela".
Por pedido de um amigo, que me ama, saí. 

Desde então muita coisa aconteceu, muitas águas rolaram, muitos laços foram quebrados. Mas só agora, depois de tanto tempo, percebo que me sinto culpada, mas não devo. Poderia citar mil motivos para justificar, mas não cito, porque me caiu a ficha que NÃO PRECISO fazer isso.
Pensei e percebi que a ameaça ou o ato tem o mesmo peso para mim. Afinal, eu lido muito bem com dores físicas, meu fraco está por baixo, e fui atingida da mesma forma que seria se a mão fosse metida na minha cara.

Mas quanta hipocrisia, acredito que se de fato eu tivesse sido agredida fisicamente, muita gente me daria razão. Mas foi uma ameaça, então muita gente me julga dizendo que eu provoquei, enfiei o dedo na cara e isso não se faz com um homem. 
Que me perdoem os envolvidos na história daquele dia, eu achava que já tinha superado tudo. mas me enganei, precisei escrever para espantar um fantasma e admitir que meteram a mão na minha alma, e eu afirmo que doeu mais que um soco na cara.

A culpa não foi minha.

A depressão me tornou corajosa. E destrutiva.
Abriu meus olhos. E quebrou minha alma.
Me fez crescer. Me fez desesperançosa.
Perdi o controle das minhas emoções.
Perdi o controle da minha mente.
Perdi o controle do meu físico.
E agora?

domingo, 29 de junho de 2014

Quando a idade passar, meus 20 acabar, quem vai ficar?
E se nada me restar? Só minha alma esmagada, atropelada pela vida, enegrecida tão cedo mas que mesmo assim farei de tudo para voar.
Quem vai ficar e sentir o meu violento jeito de amar, sentir a minha loucura que não quero e não vou mudar.
E se me faltar o ar, quem vai me carregar? Pois eu já tentei, mas não sei viver sem lembrar.

A coisa que eu mais odeio na minha depressão é a falta de lucidez ao lidar com a possibilidade da perda.
A coisa que eu mais odeio na minha depressão é a falta de lucidez ao lidar com a possibilidade da perda.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Corajosa, sincera, guerreira, forte.
Parem por favor, me deixem aqui sentada desistindo um pouco. Prometo que não vou desistir todos os dias. Mas hoje, hoje eu preciso.
Desisto.
E se eu pudesse explicar o que é uma mente cansada, escreveria um livro.
Eu só posso dizer que cansa, que tudo isso cansa, e que estou cansada.
Não há como explicar sem viver. É um cansaço que não é carnal.
Mas eu não posso descansar, nunca. Não posso, não posso e não vou.
E todos os dias alguém deixa de sonhar, desanima. Me desanima.
Voltem solhadores, nosso corpo está na terra, mas nossa alma não. Fortaleçam-se e não desistam, por favor.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

É muito fácil dizer que você é um sonhador. Sonha com o que? Em ter um carro, um apartamento e um guarda roupa cheio de grifes? Meu querido, isso é sonho do coletivo inconsciente. 
Talvez esse seja realmente seu sonho individual, e não há nada de errado nisso.
Mas talvez você nunca parou pra pensar se isso realmente te faz feliz. Pense se vale a pena privar-se de fazer o que você gosta, o que ama, o que sente prazer para ser "normal" na sociedade que é conservadora sim. Uma sociedade que se você tem algo que foge do aceitável, ideias diferentes, sonhos absurdamente fora dos padrões, recebe olhares de reprovação de todos os lados.
Talvez eu nunca tenha um guarda roupa cheio de grifes, talvez nunca tenha o carro do ano, nem um apartamento em Moema. Mas eu me recuso a fazer o que não gosto.
Eu tenho uma vida só, luto todos os dias contra a depressão, e não, eu não vou desperdiçá-la.

domingo, 22 de junho de 2014

Começou com uma lágrima, e sempre que sinto um ar de alívio, acabo em outro mal.

É realmente incrível como nosso corpo é imbecil. Minha alma dói e quando minhas lágrimas não são suficientes, meu físico se vira muito bem e encontra outra forma de liberar minha angústia.
Além da dor insuportável e inexplicável na mente, além dos treze comprimidos por dia, além das terapias, além de tudo, meu corpo não entendeu muito bem o quanto estou me esforçando.

A primeira vez que tive convulsão foi a coisa mais estranha do mundo. Acordei confusa com meu pai do lado e meu corpo doía como nunca na vida. Ficou por isso mesmo.
Na segunda vez, estava tentando melhorar minha mente me exercitando, acordei no hospital, com enxaqueca.
Na terceira estava no ônibus, acordei na ambulância, coberta de hematomas.
Enfim, perdi a conta, não lembro de todas as vezes. Na última, estava sozinha em casa, desmaiei em cima do meu vômito. Pedi socorro. Tive mais 3 convulsões nesse dia. Também acordei no hospital, com fios ligados no meu corpo inteiro, 41 graus de febre, a enxaqueca como sempre. insuportável.

Exames de sangue, de urina, lavagem estomacal, tomografia. Nada.

Furaram minha veia de forma errada, meu sangue coagulou. Acharam que tentei me matar. Mas não, não dessa vez.

Mudei de médico. E mesmo faltando um exame em que vão provocar uma convulsão para examinaram meu cérebro, ele me deixa claro: você está com pseudo-crises. Já teve depressão?
Sim, já tive/tenho.
Então, mais remédios, e minha memória e capacidade de percepção vão pro lixo, junto com minha vontade de entender o que se passa na minha cabeça.

Vômitos, enxaquecas, desmaios, hospitais, glicose, médicos, soro, terapia, exames, drogas, memória, hematomas, coágulos, agulhas, sangue, insônia, depressão, depressão e depressão.

E tudo começou com uma lágrima.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Dos meus olhos

Quando se tem depressão, mesmo sem notar você desenvolve formas de camuflar lágrimas, principalmente em casa. Você não quer preocupar ninguém e sabe que, não há o que fazer.
É possível chorar um dia inteiro sem ninguém notar, juro.

Mas o olhar revela. Eu particularmente reconheço um deprimido pelo olhar. Pupilas dilatadas pelos remédios, mas pálpebras levemente caídas. No consultório presto muita atenção nos olhos das pessoas. Eles doem. Sei que elas também prestam atenção nos meus, há um certo entendimento na troca de olhares, é como se um dissesse pro outro: "estou sentindo sua dor".


Então esses malditos olhos que consigo esconder de alguns mas que ao mesmo tempo me revelam tanto para outros, são os mesmos que me pegam desprevenida passando em frente ao espelho do quarto, do banheiro, do bar, de qualquer lugar e não me deixam enxergar o essencial: eu.

Esses malditos olhos que só me mostram uma dor chamada de doença.
Me olho propositalmente mais de uma vez e quero me enxergar e nitidamente me reconhecer.
Mas a depressão me reconhece primeiro, e eu prefiro não olhar mais.

domingo, 18 de maio de 2014

Nenhum homem gostaria de ser meu pai muito menos meu marido, mas muitos gostariam de ser meus amantes porque pareço um personagem. 
Um personagem por ser desnecessariamente, ou necessariamente, verdadeira.
Eu sou extremamente real, e esse exagero de sinceridade às vezes me incomoda

sábado, 10 de maio de 2014

Eu não conto mais quantas vezes eu morri. E muito menos quantas vezes voltei dos mortos.
Alguma coisa aconteceu lá atrás que me deixou assim, vezes viva, vezes destruída.

Eu lembro do dia que conheci cada um de vocês, tínhamos no rosto um sorriso pleno, verdadeiro, eufórico. Claro que já lidávamos com preocupações, mas ríamos.

Risadas do fígado, como você diz Natan.
Paz. Nós vivíamos dela, né Larissa?
A faculdade parecia ser o lugar ideal para nós, fazer o que gosta, com as pessoas que gostamos, sempre foi cansativo, porém, prazeroso. Desde o primeiro ano foi assim com você, Paulo.
Festas! Meu Deus como a gente gritava, dançava, ria, abraçava! Eu e o Ícaro temos muitas histórias para contar, uma mais lindamente podre que a outra. Dá pra escrever um livro, juro.
Eu não quero voltar no tempo, primeiramente porque é impossível, e porque não quero mais aquela alegria. Ela foi gozada no momento que deveria, e foi o que fizemos.
Mas confesso que sinto saudade de soltar uma gargalhada do fígado sem depois falar sobre problemas, remédios, tristezas e mágoas. Admito que o mundo não tem sido muito fácil com a gente. Não sei ao certo quando, mas em algum momento as coisas foram desabando, e hoje, cada um de nós tem um pontinho de dor, que perdura, não sara, não vai.
Se fosse para ter aquela alegria, aceitaria se fosse com a cabeça que tenho hoje. É pedir muito, eu sei.

Quando digo essas coisas para qualquer pessoa, sempre tentam me conformar dizendo que a vida é assim mesmo e que devo me acostumar. Eu não quero me acostumar com esse jeito morno de empurrar a vida. Eu não consigo. Eu preciso de mais motivos para me manter aqui.

Nós éramos indestrutíveis e nos tornamos frágeis. E isso não é uma vergonha, isso quer dizer que nos entregamos para vida,  que vivemos nossos limites, e por mais arriscado que seja, fizemos o deveria ser feito.

Eu acordo todos os dias me perguntando porquê devo me levantar e mil coisas surgem na minha cabeça, mas nenhuma forte o bastante para eu abrir os olhos.
Mais uma vez eu morro.E mais uma vez eu vou dar um jeito de voltar a respirar.

Mas eu quero respirar com vocês. Eu quero dançar, rir, chorar, mesmo se for de tristeza, mas com a mesma força e intensidade que tínhamos. Eu não consigo aceitar que o tempo passe e fique por isso mesmo.
Em algum lugar nossas fraquezas se transformam em força e tiramos ânimo da última faísca de otimismo que nos resta. Minha dor, meus problemas, minhas drogas e meus lamentos, são prova disso.

Mas eu preciso de mais.
Vocês também.

E todas as vezes que me derrubarem, chorem comigo e depois me levem para dançar um rock.
É o que farei com vocês, sempre.

Estou me sentindo o Augusto Cury escrevendo esse texto. Que péssimo. Olhem onde eu cheguei, por favor não me deixem escrever um texto me sentindo o Paulo Coelho. Eu não suportaria.

Amo vocês.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

O preconceito existe e está estampado na vida de quem possui algum transtorno e precisa do acompanhamento de um psiquiatra. Algumas pessoas ainda não entenderam que é um médico, como qualquer outro, e que fazer um tratamento não te torna incapaz de trabalhar.
Talvez se fosse um atestado de virose, diarreia, dor de estômago, de um clínico geral, ou até de um dermatologista, ok.
Mas era atestado de um psiquiatra com o CID de depressão decorrente. 
Porque como um diabético passa mal às vezes, eu também passo mal às vezes.
Mas ah, aceitar alguém que passa por psiquiatra em uma empresa é absurdo para algumas pessoas. TRISTE.
A sociedade hipócrita é mais doente que eu. Mais doente que tudo.
Sou capaz de trabalhar, e trabalho muito bem, diga-se de passagem. E o o trabalho foi uma das coisas que fizeram com que eu me erguesse e não deixasse a depressão me dominar.
But, ok. A vida é muito curta pra viver com tanta miséria de espírito e falsidade.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

E 8 horas sem o Frontal. Tremedeira, ansiedade, pânico e acho que vou morrer e certeza que é uma dependência maldita.
Faz tempo que não me sinto plena. Não porque me faltam coisas. Mas porque falta eu. Não sei onde está

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Pensamos tanto nas pessoas que marcaram nossas vidas. Esquecemos que também marcamos a vida de alguém.
Ninguém sai ileso.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Sempre vejo um prédio da varanda do meu trabalho.
A maioria dos apartamentos têm flores decorando as janelas, em um são todas brancas, no outro, coloridas. Mas um cultiva dois cactos enormes que passam da varanda para fora. Fiquei me perguntando porque alguém cultiva um cacto? Sempre achei feio, opinião minha. Além da  péssima estética, machuca.
Fiquei uns 5 minutos olhando para aquilo. Me peguei na hipocrisia.
Eu também cultivo coisas feias e que machucam.


Sou muito mais ou muito menos do que você vê.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Querem apagar os muros mas não dão voz ao povo.
Não legalizam a maconha e não proíbem o cigarro.

domingo, 27 de abril de 2014

Eu te amei de mais, e sério, o que eu queria não era nada demais. Você não pode me dar.
Recentemente, conversando com uma nova colega, a Natália Bae, contei bem resumidamente meu caso de derrotas e vitórias contra a depressão. Ela ficou surpresa, e ouvi dela o que muita gente já havia me dito: mas você? Eu nunca imaginaria.

Eu continuo contando o tempo, podem me julgar, 1 ano e 4 meses. No início foi desespero, no meio eu desacreditei. Esse meio acontece várias vezes, em vários momentos, que duram uma semana, um dia, um minuto, 5 horas, não sei. Sei que o médico olhou para mim e disse: você tem depressão grave e isso não é tão simples como quem diz que precisa de Rivotril para dormir. 

Como um diabético que aplica insulina todos os dias, todos os dias aplico um motivo para levantar da cama. E isso nunca mudou durante esse tempo.
Eu não posso ficar 3 dias sem os 2 antidepressivos que uso. Desmorono. E ser refém de uma alegria produzida em um laboratório é perturbador. 

Voltei a trabalhar, e achei que seria fácil. Não foi. Duas semanas com crises de síndrome do pânico, e choro. Eu quero trabalhar, eu amo trabalhar. Mas já não sei o que é pior: a depressão ou a sua recuperação.

Eu exponho. 

Chico Anysio, um dos maiores comediantes do Brasil, apareceu recentemente na Globo dizendo: Quanto mais pessoas me ouvirem falar sobre a depressão, mais pessoas vão deixar de ter vergonha de ser deprimido”. Ah, como fez sentido. 

Eu buscava por depoimentos assim, e não encontrava. A cobrança implora para que você diga: eu venci a depressão. Nunca vi ninguém dizer para um míope: tire seus óculos e vença essa doença!

Meus amores, eu sei que, quando exponho, muitas pessoas leem e se sentem bem, às vezes não por maldade, mas porque está no DNA de alguns, só conseguir se sentir bem, quando sabe que alguém está mal. Ana Cañas canta: "Vê na morte a sua esperança. Não via, havia. Preto feito o desejo do branco um dia".

Mas também sei que, que meus melhores, oram por mim. E que alguém talvez leia, e se identifique e não se sinta tão sozinho nessa batalha que sabemos, é pra vida toda.
As marcas estão na minha alma, nunca vou esquecer. Estão no meu dia a dia. Ainda não consigo ir ao shopping, não consigo sair a noite, e minha cama ainda é o lugar mais seguro do mundo.

E não, não sou forte todos os dias. Eu morro. Todos os momentos. Eu estou dilacerada. E hoje, nada vai mudar isso. Nada.


sábado, 26 de abril de 2014

Eu sou feita de marcas. Na pele, no corpo, na alma.
Não escondo, exponho. Eu grito cada ferida e cada mágoa, e não me envergonho disso.
Errado é guardar defeito e esperar que ele se torne uma qualidade. Errado é expor uma mentira.
Descobri que minha escuridão pode ser luz na vida de alguém, que assim seja. Aceito cada lágrima, cada desabafo vomitado, cada desespero, porque eu sei o que é buscar compreensão, e não achar.
Eu sei o que é querer desistir, desistir de verdade. E sempre busquei palavras escritas para me aconchegar, quase nunca achei.
Quando alguém diz que eu deveria ser mais reservada, respeito, mas desejo profundamente que esse alguém nunca tenha que buscar por esses gritos escritos. Eles salvam.

domingo, 20 de abril de 2014

A linha tênue entre a liberdade e a fuga.

Clarice disse que liberdade é pouco, e que queria o que ainda não tinha nome. Eu concordo, não existe nome pra grandeza da liberdade que sinto, vezes acho que não vou suportá-la. Mas ela era Clarice, né?
Liberdade se conquista, se trabalha para ter. Aprendi isso com a Danuza Leão, ela diz que não há nada melhor do que fazer o que gosta para poder ter o que gosta. Isso é ser livre.
Auto escolha. É poder se isolar, encarar a solidão, sem nada e ninguém, e ser apenas, você.
Assumir quem você é para o mundo é mais fácil do que assumir para você mesmo, mas é o que te dá a liberdade de sim, fazer o que quiser. Sente-se com você mesmo, converse e bagunce tudo que até então você acreditava ser.
Isso não quer dizer que jogar tudo pro alto e ir sem olhar para trás é uma ótima opção, se isso for opção, já te torna um escravo dela.
É preciso primeiramente se livrar do que você pensa que é.
É preciso estar livre de si, para se livrar do resto, são aquelas coisas simples que parecem complicadas. Mas só parecem complicadas porque o ser humano tem uma incapacidade absurda de assumir suas fraquezas e defeitos e preferem a fuga. Fugir é mais fácil.

Liberdade é encarar suas obrigações e poder colher os frutos de ser livre sendo você.
É assumir sua alma escurecida pelo tempo, aceitar as lágrimas, o trabalho, a vida, você.

Liberdade é dividir-se entre você e a solidão e mesmo assim, ser.
Auto escolha, no tempo que quer.
De nada adianta fingir ser livre.

O que te prende nem sempre é um chão.



terça-feira, 15 de abril de 2014



Odeio escrever isso. Estou me odiando agora.
Odeio ainda mais achar que tenho motivo para escrever isso
Eu amo.
Amo meus amigos incondicionalmente, mas os poucos, aqueles poucos.
E às vezes eles não estão aqui. É uma solidão profunda, a pior das piores, é um egoísmo meu.
Os quero por perto, quero o ombro, o abraço, o sorriso.
Eu tenho medo, de por ser quem sou, ficar só.
Eu só quero meus amigos. Meus poucos.