quinta-feira, 25 de setembro de 2014



Só conseguia ver aquela cena rodando na minha cabeça: mãos e pés amarrados com cordas e boca amordaçada.
O mundo parecia muito estranho naquela semana. Mais que o normal.
Enquanto estive presa, tive tempo de observar detalhes que ao mesmo tempo me acolhiam, me deixavam triste.
Eu não conseguia me mexer e precisava de alguém até mesmo para conferir quantos comprimidos ainda restavam na caixa de cada um dos remédios. Certamente não havia mais de onde tirar esforço para tentar fugir daquela prisão.
Mesmo sem saída, eu ainda enxergava. Esqueceram de tampar meus olhos, então eu via com clareza a vida de muita gente; os amigos, o trabalho, a família, as festas, a liberdade.
Me sentia extremamente aliviada por não ter que fingir em nenhuma dessas situações, mas me sentia muito mais angustiada em saber que eu não podia fazer nada daquilo sendo quem sou.
Conhecia minhas qualidades e sabia que as tinha, era como se o mundo tivesse fechado as portas para elas por um tempo, e esquecido de abrir.
E não adiantava nem pensar em reclamar, minha boca estava fechada e a comunicação era apenas visual.
Eu queria dizer ao mundo que não desejava que ele fechasse as portas de ninguém para eu não ficar para trás, porque era essa sensação que tinha, eu só desejava que ele deixasse um vão, uma fenda que eu pudesse sozinha terminar de abrir.
Eu só precisava de um contato visual para tentar mandar a mensagem.
O restante, o tempo perdido, as dores, os remédios, eu resolvia sozinha.
Juro.



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