terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Faz 2 horas que tomei meus remédios para dormir e confesso que meus olhos já estão pesados.
Mas não quero me deitar, quero esperar cada um da minha casa dormir e ficar, sozinha, na sala para fazer absolutamente nada. Olhar para a parede ou no máximo a janela.

Em certos momentos não preciso de muito para ser livre. 
Me encarar no silêncio e perceber o quão isso é necessário me tira da zona de conforto e da posição de fugitiva da realidade.

Mas agora que sou livre, o que eu faço com a liberdade, aqui, no sofá e olhando para a parede?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Eu não gosto das sextas feiras. Existiram dias que eu gostava. Hoje em dia elas servem para deixar num estado de solidão profunda. Talvez um dia isso mude, e eu passe a odiar as segundas feiras, como todos.
Há muito tempo não ficava sozinha em casa, hoje, aqui na varanda, eu sentei para esperar o sono, que sempre me vem atrasado e coloquei uma música para tentar mudar um pouco o cenário. Mudou, está chovendo e as únicas luzes que brilham são as do Natal. Que ideia estúpida, sentar na varanda a noite, com chuva e em época de Natal. Enfim, agora já foi.
Mas ainda sobre o dia, me ocorreu algo diferente, conversei com um dos meus melhores amigos, aqueles que mesmo depois de meses, continuam o melhor amigo.
Nós discutimos sobre ignorar a opiniões dos outros, e eu enchi a boca para dizer que não me importo. De fato, não estou nem um pouco preocupada com o que conhecidos falam, pensam de mim, ex colegas da faculdade, pessoas que só passaram por mim, não me importo. Eles não sabem nada sobre mim.
Mas caí na questão do que será que as pessoas próximas pensam, julgam, e sim, é difícil lidar com uma possível decepção vinda de quem você ama, de quem faz tudo por você. Percebi que pequenos segredos guardados precisam ser mostrados e encarar as dores que isso pode me causar.

Não é pelos remédios, pelos cigarros, pelas frustrações.
É porque hoje eu entendi, que o julgo só serve de mim para mim. Ninguém pode me julgar, apontar o dedo, gritar comigo, porque tudo que eu fiz e faço, é porque quero, até mesmo quando me questiono como conseguir chegar tão baixo.

Hoje foi um dia importante, me declarei culpada e agora posso me perdoar. Somente eu, mais ninguém.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Compartilhei minha vida, minha mente e meu corpo com você.
É verdade, eu era louca, sua amante dos pés à cabeça.
E desse jeito as coisas terminaram.

Fiquei sabendo que você encontrou várias garotas, algumas do passado.
Chegou aos meus ouvidos que você está famoso, que alcançou.

Sei que as coisas demoraram muito mais para acabar para mim, eu fiquei chapada pela cena de ser deixada. E minhas lágrimas nunca secam. Nunca.
Eu era só uma menina selvagem, que até hoje não me perdoo por todas as maquiagens que estraguei por tua causa.
Eu era pequena demais para entender que o amor não é igual para todos, e pensei que chorando teria o que conseguisse, como toda criança faz.
Mas ao mesmo tempo eu era a estrela do palco, tinha muito rock and roll nos meus ouvidos tampando o barulhos dos tiros que você me acertava, e sim, você gostava disso, tinha prazer quando eu gritava para terminar logo com isso, era sádico.

Queria dizer que há perdão para tudo.
Que há perdão para meus sonhos infantis, para minhas ressacas de rainha, para minha luta.
Há perdão para o meu mundo louco, que também me disseram que você odiava.
Não tem problema, eu vivia por diversão, minha vida era diversão, até minha melancolia sorria quando você fingia estar gostando.

Algumas pessoas dizem que tenho um rosto delicado, mas meu coração é bem deprimente.

Você saiu de tudo tão são, e eu tão louca que às vezes penso que foi tudo uma farsa minha e tua. Você era o louco, e eu estava completamente sã, porque eu sentia, eu sentia, eu sentia. Você não.

Olhe para mim agora. Meu rímel está no lugar, e meu blush me deixa corada.
Eu sou uma garota triste que vive bons momentos.

Te desejo o melhor. Porque é isso que falamos para quem não conhecemos.
Te desejo o melhor. Fique bem. Sucesso.

bj.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Eu queria entender porque a maioria das pessoas odeiam as segundas feiras. Dizem que é por conta do trabalho, voltar a rotina maçante do dia a dia. Eu até entendo quando penso que a maioria das pessoas não gostam dos seus trabalhos, e vão apenas pelo dinheiro.
Não, não sou uma lunática que deseja viver de luz, sei que sacrifícios são necessários para chegarmos ao nosso objetivo, o problema é que a maioria esquece dele no meio do caminho, e tudo fica chato, sem graça, sem cor.

Eu gosto das segundas, me dá um ar de recomeço, mais ou menos ao dia 1 de janeiro, e que mesmo sabendo que nada vai recomeçar, a sensação é boa.
Sem falar que a segunda não nos deixa esquecer que existe o sábado e domingo, e nos enche de ansiedade.

Eu odeio mesmo, as sextas feiras, não quero ser do contra, já sendo.
Mas essa obrigação de alegria e sorriso no rosto não me apetece.
Sexta é um dia ótimo para pensar no descanso, em algo que queira fazer no final de semana, e também para se divertir. Mas por querer e não por obrigação.
Às vezes penso que deve existir um livro escrito como devemos nos comportar em cada dia da semana, mas nunca vi para comprar. Mas deve ter, as pessoas seguem à risca os mandamentos semanais.

Nem vou falar de fim de ano que me dá rebordose e desânimo.


Mundo, depois de tantos pedidos não atendidos. 
Imploro que ignore meu drama. Pois a histeria corre em mim e loucura me pertence. 
Mas mesmo assim, me deixa viver?

sábado, 13 de dezembro de 2014

Tenho família mineira, logo, minhas férias sempre foram em Minas.
A família da minha mãe vem de uma pequenina cidade no sul de Minas chamada Ilicínea.
Todo ano, em todas as férias, lá era o meu lugar.
Lembro vagamente de uma casa em que minha vó morou que quando fazia muito calor, enchia-se de formigas, era desesperador. Mas durante o dia esquecia das formigas e brincava com potes de danone, yakult, ou qualquer coisa do tipo. Minha irmã era mais moleque, gostava de pular muro para pegar jabuticaba. Lembro de uma vez que ela caiu, rasgou o shorts e estourou o joelho.
Enfim, depois lembro-me muito bem de um sobrado lindo pra onde meus avós se mudaram, eu adorava aquela casa, tinha 4 quartos, uma para minha vó e vô, um para meus pais, um pra mim e minha irmã e outro para visitas. Tinha uma sala grande, e uma varanda que junto com uma prima fazíamos casinha com cobertores. Eu achava um máximo porque tinha 3 quintais, isso em SP é impossível, eu ficava deslumbrada. Tinha também um galinheira atrás, eu sempre entrava pra pegar ovos ou correr das galinhas, uma vez caí na poça de titica e me sujei dos pés à cabeça, minha vó não me deixou entrar no chuveiro daquele jeito, e tive que tomar banho na pia. Lembro tanto dessa casa, do cheiro horrível da galinha sendo depenada na água morna, de pegar minhocas no quintal, de ficar na varanda olhando pro nada.
Ah, claro, tinha a roça, meu vô plantava café, criava boi, porco e tinha uma horta linda, e várias bananeiras. Nós passávamos o dia lá, meu pai fazia churrasco no fogão de lenha, montava uma piscininha para eu e minha irmã enquanto meu vô pegava cana para a gente chupar.
Eu tinha um pouco de medo de entrar no meio do cafezal porque tinha muita história com cobras por lá, então ia de vez em quando, só para ver os carocinhos vermelhos, e comer umas bolinhas pretas, não me lembro o nome, haviam boatos que era venenosa, e eu comia fantasiando que realmente eram.
Tinha a Gretchen, égua do meu vô, acredito que ele era um grande fã da conga la conga. Ela era branca, e às vezes meu vô colocava eu e minha irmã na carroceria para dar uma volta pela cidade. Eu amava aquilo.
Tudo era muito calmo.
Então meu vô ficou doente, começou com uma dor no dedão do pé, e acabou com a amputação na perna. Depois ele ficou bastante deprimido, a roça, a plantação, as bananeiras, eram a vida dele, e agora ele não podia mais cuidar. Minha vó levou adiante contratando pessoas, mas não é a mesma coisa, por fim vendeu tudo.
Um vez levamos meu vô para ver como estava a roça, fazia anos que ele não ia lá. Eu era pequena, não entendia direito o momento, mas hoje imagino a tristeza do meu vô ao ver tudo que ele cuidava com tanto amor, transformado num grande matagal. Sem nada, sem vida.
Mas como criança, minha diversão tornou-se esperar o sono da tarde do meu vô para ficar andando com a cadeira de rodas dele pra lá e pra cá na casa. Quando ele acordava, corria pra colocar a cadeira no lugar como se nada tivesse acontecido.

A casa tinha muitas escadas, o que distanciava meu vô do mundo, da rua, da calçada. Por isso, minha vó comprou a casa da frente, sem escadas, um quarto a menos e uma sala bem menor, o que fez meu vô apelida-la de ovo, o que eu achava um absurdo, meu vô não suportaria morar em SP, em ver os poucos metros quadrados em que se vive por aqui. Uma casa com três quartos, suíte, quintal, cozinha, área, pomar e dispensa? Isso aqui é luxo vovô.

Nessa casa eu já era um pouco mais velha, já entendia melhor as coisas, e percebia de longe a tristeza do meu vô, que apenas sobrevivia. Não adiantou ir pra lá, ele continuou em casa, sem andar na rua, nem na calçada, ela havia perdido a vontade de viver. Era nítido.
Um dia, ao me despedir dele, ele falou "volta rápido hein, na próxima eu posso não estar aqui". Nesse mês ele faleceu. Foi uma madrugada horrível, a única vez que vi minha vó chorando.

Eu fui crescendo, e cada vez com menos tempo para ir à Minas, não tinha mais como ficar o mês inteiro, já fazia outras coisas por aqui, tinha meus amigos e enfim.
Mas o "ir para a casa da vó" sempre foi sinônimo de paz, sempre imaginei o mundo desabando, e eu correndo para minas, porque lá o mundo não ia desabar. Era uma segurança que ainda sinto com tanta força, que me dá saudade e ao mesmo tempo, alívio.

Não quero falar sobre os meses finais da minha vó, foram muito difíceis. Eu já tinha 22 anos, entendia bem o que estava acontecendo e me doía, doía porque eu sabia que ela ia embora, eu sabia, era só uma questão de tempo.
A última vez que a vi em vida, ela me deu uma mantinha de oncinha, porque se lembrou de mim quando o moço passou vendendo.

Não preciso dizer o quão foi horrível perder minha vó, que mesmo numa cidade tão pequena, amava desfilar comigo pela cidade para mostrar minhas tatuagens. Ela ficava passando a mão tentando entender como aquele desenho não saía da pele. E sempre dizia que achava lindo.

A casa dela, hoje, da minha mãe continua lá, cuidamos como se ela estivesse cuidando, todos os seus móveis, suas rosas no jardim estão intactas. O pé de jabuticaba, de mexerica, de laranja, de temperos, estão todos lá, usufruímos de tudo com muito amor e respeito.

Minha infância em Minas não poderia ser melhor, pescando, andando a cavalo, brincando com minhoca, comendo muito doce e pão de queijo, eram coisas que nunca existiram para mim em SP.

Hoje, a casa da minha vó continua sendo meu refúgio, mesmo sem ela, só há paz naquele lugar. Durmo bem, acordo bem, tudo fica bem.
Tudo muito bem.