domingo, 27 de abril de 2014

Recentemente, conversando com uma nova colega, a Natália Bae, contei bem resumidamente meu caso de derrotas e vitórias contra a depressão. Ela ficou surpresa, e ouvi dela o que muita gente já havia me dito: mas você? Eu nunca imaginaria.

Eu continuo contando o tempo, podem me julgar, 1 ano e 4 meses. No início foi desespero, no meio eu desacreditei. Esse meio acontece várias vezes, em vários momentos, que duram uma semana, um dia, um minuto, 5 horas, não sei. Sei que o médico olhou para mim e disse: você tem depressão grave e isso não é tão simples como quem diz que precisa de Rivotril para dormir. 

Como um diabético que aplica insulina todos os dias, todos os dias aplico um motivo para levantar da cama. E isso nunca mudou durante esse tempo.
Eu não posso ficar 3 dias sem os 2 antidepressivos que uso. Desmorono. E ser refém de uma alegria produzida em um laboratório é perturbador. 

Voltei a trabalhar, e achei que seria fácil. Não foi. Duas semanas com crises de síndrome do pânico, e choro. Eu quero trabalhar, eu amo trabalhar. Mas já não sei o que é pior: a depressão ou a sua recuperação.

Eu exponho. 

Chico Anysio, um dos maiores comediantes do Brasil, apareceu recentemente na Globo dizendo: Quanto mais pessoas me ouvirem falar sobre a depressão, mais pessoas vão deixar de ter vergonha de ser deprimido”. Ah, como fez sentido. 

Eu buscava por depoimentos assim, e não encontrava. A cobrança implora para que você diga: eu venci a depressão. Nunca vi ninguém dizer para um míope: tire seus óculos e vença essa doença!

Meus amores, eu sei que, quando exponho, muitas pessoas leem e se sentem bem, às vezes não por maldade, mas porque está no DNA de alguns, só conseguir se sentir bem, quando sabe que alguém está mal. Ana Cañas canta: "Vê na morte a sua esperança. Não via, havia. Preto feito o desejo do branco um dia".

Mas também sei que, que meus melhores, oram por mim. E que alguém talvez leia, e se identifique e não se sinta tão sozinho nessa batalha que sabemos, é pra vida toda.
As marcas estão na minha alma, nunca vou esquecer. Estão no meu dia a dia. Ainda não consigo ir ao shopping, não consigo sair a noite, e minha cama ainda é o lugar mais seguro do mundo.

E não, não sou forte todos os dias. Eu morro. Todos os momentos. Eu estou dilacerada. E hoje, nada vai mudar isso. Nada.


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