segunda-feira, 31 de março de 2014

O estranho caso de uma vida que não sente

Sentia vezes sim, vezes não, navalhas cortando sua alma em pedacinhos para depois costurar e, antes da cicatrização, cortar por cima do machucado, e para ela, isso era A dor. E era frequente.

Acordava com um nó no estômago que chegava a dar náuseas. Passava o dia nesse processo de automutilação inconsciente e mal dormia. Dormia mal. Dormia cheia de pesadelos, e não podia escolher entre estar acordada ou dormindo.

Mas e agora que, sente-se deslocada de si? Ainda vê com clareza a navalha, e sabe que a qualquer momento ela pode feri-la como antes. Sabe que os pontos mal feitos pela vida, por ela, pelos remédios, ou por todos juntos, são fracos e, qualquer descuido é motivo para se desfazerem, e mesmo isso não sendo novidade, é cansativo refazê-los, ninguém tem a menor ideia do quanto esse processo envelhece, envelhece por dentro. É cansativo, se refazer, se refazer e se refazer, não entendem, ela sabe.

Mas sem dor, o que se sente? Se ela não sente dor, agora ela não sente nada.
E o nada, é muita coisa, é muita gente, é muito ela.
Ela já não sabe se é pior doer no tudo, ou sentir o nada.
Apática. Ela não quer ser assim.
Ela precisa sentir, da ponta do seu pé ao seu último fio de cabelo, precisa sentir, o amor, a dor e também o amor, às vezes, ao menos, o amor.

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